24 junho 2004

Uma fábula moderna

Esse texto eu conhecia nos tempos do mestrado, quando eu era um pobre e miserável aluno padecendo na mão de um (des)orientador. Não, eu não estou fazendo drama. Meu mestrado foi um inferno. Mas coisas como esse texto abaixo ajudavam a nos divertir e esquecer do maldito problema no código que jogava seu resultado previsto por água abaixo...


Pois então, Cátia me enviou-o, e como eu tinha perdido a cópia anterior (transcrevemos a história e colamos na parede do laboratório de pós - eu e um amigo, peruano), essa vai ser aqui celebrizada. Então, lá vamos nós.




Num dia lindo e ensolarado o coelho saiu de sua toca, com o notebook e pôs-se a trabalhar, bem concentrado. Pouco depois passou por ali a raposa, e viu aquele suculento coelhinho tão distraido, que chegou a salivar, mas ela ficou intrigada com a atividade do coelho e aproximou-se, curiosa.

- Coelhinho, o que você esta fazendo aí, "tão" concentrado?

- Estou redigindo a minha tese de doutorado - disse o coelho, sem tirar os olhos do trabalho.

- Hummmm... E qual e o tema da sua tese?

O coelho remexe os óculos, pára um instante, olha para a raposa e diz:

- Ah, é uma teoria provando que nós, os coelhos, somos os verdadeiros predadores naturais das raposas.

A raposa ficou indignada:

- Ora, isso é ridículo! Nós é que somos os predadores dos coelhos!

O coelho responde firmemente:

- Absolutamente! Venha comigo a minha toca que eu mostro a minha prova experimental.

O coelho e a raposa entram na toca. Poucos instantes depois ouve-se alguns ruídos indecifráveis, alguns poucos grunhidos e depois silêncio. Em seguida, o coelho volta, sozinho, e mais uma vez retoma os trabalhos de sua tese, como se nada
tivesse acontecido.

Meia hora depois passa um lobo. Ao ver o apetitoso coelhinho, tão distraído, agradece mentalmente à cadeia alimentar por estar com o seu almoço garantido. No entanto, o lobo também acha muito curioso um coelho trabalhando naquela concentração toda. O lobo resolve então saber do que se trata aquilo tudo, antes de devorar o coelhinho:

- Olá jovem coelhinho. O que o faz trabalhar tão arduamente?

- Minha tese de doutorado, seu lobo.

- Hummm... E qual é o assunto, posso saber?

- É uma teoria que venho desenvolvendo há algum tempo e que prova que nós, coelhos, somos os grandes predadores naturais de vários animais carnívoros, inclusive dos lobos.

O lobo não se contém e gargalha com a petulância do coelho:

- Ah, ah, ah, ah, coelhinho! Apetitoso coelhinho! Isto é um despropósito. Nós, os lobos, é que somos os genuínos predadores naturais dos coelhos. Aliás, chega de conversa...

- Desculpe-me, mas se você quiser eu posso apresentar a minha prova experimental. Você gostaria de acompanhar-me até a minha toca?

O lobo não consegue acreditar na sua boa sorte. Ambos desaparecem toca adentro. Alguns instantes depois ouvem-se uivos desesperados, ruidos de mastigação e ... Silêncio. Mais uma vez o coelho retorna sozinho, impassível, e volta ao trabalho de redação da sua tese, como se nada tivesse acontecido.

Dentro da toca do coelho vê-se uma enorme pilha de ossos ensangüentados e pelancas de diversas raposas e, ao lado desta, outra pilha ainda maior de ossos e restos mortais daquilo que um dia foram lobos. Ao centro das duas pilhas de ossos, um enorme leão, satisfeito, bem alimentado, está lá, a palitar os dentes.

MORAL DA HISTÓRIA:


  • Não importa quão absurdo é o tema de sua tese;
  • Não importa se você não tem o mínimo fundamento científico;
  • Não importa se os seus experimentos nunca cheguem a provar sua teoria;
  • Não importa nem mesmo se suas idéias vão contra o mais óbvio dos conceitos lógicos;
  • O que importa é: "Quem é o seu orientador..."



E o pior é que esse texto é verdade.

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