11 outubro 2004

Eu e o Fernando Sabino

Eu sempre gostei de ler, mas o meu primeiro contato com crônicas foi aos 9 anos, justamente com uma crônica do Sabino: "Hora de Dormir" (lembro até hoje). E foi através da série "Para Gostar de Ler". Foi uma série da Editora Ática com textos de grandes autores para incentivar a leitura. E o primeiro volume... Crônicas! De Carlos Drummond de Andrade, Paulo Mendes Campos, Rubem Braga e... Fernando Sabino.

Lembro-me até hoje das risadas ao ler essa primeira crônica dele. Chegamos a encená-la na escola, eu e uma colega (o duro foi prender o riso quando ela fala: "Porque eu tenho que ir dormir agora, pai? Vai ter homem pelado na televisão?").

A partir dali comecei a gostar de crônicas e pequenos contos, e aos 14 anos tive contato com outra grande obra do Sabino: "O Menino no Espelho". Esse é um dos (poucos) romances dele, e ele trata da infância dele. Eu viajava junto com a imaginação do menino Fernando, lembro-me que li todo o livro em um dia só (umas 200 e poucas páginas), reli ainda algumas vezes...

O Sabino escrevia uma crônica semanal no suplemento Jornal da Família, do jornal O Globo, no domingo. Li todas que eu podia enquanto ele publicou. A maioria versava sobre o período que ele morou fora do Brasil (quase todo o tempo em Londres). Depois, passei a procurar os livros de crônicas dele, e saí comprando em sebos o q pude achar.

Aí tive contato com "O Homem Nu", "Deixa o Alfredo Falar", "A Falta Que Ela Me Faz" e tantos outros contos e crônicas do grande mestre Sabino (como aquele amigo dele, que era ateu "mas tinha muita fé em Nossa Senhora", ou a impagável crônica da carona). Através dele acabei conhecendo outro grande mestre cronista, Luis Fernando Veríssimo.

E hoje, recebendo a notícia da morte dele, sinto-me meio órfão, pois morreu um dos meus heróis literários, o homem que me fez gostar de crônicas e pequenos contos, e me senti desafiado a tentar escrever alguns. Não sei se saem daonde estão, mas um dia eu continuo.


Um escritor não sabe falar dos seus livros. Se ele soubesse, não seria escritor, seria crítico literário

Fernando Sabino (1923-2004)

0 Comments:

Postar um comentário

<< Home