06 maio 2005

Filosofações: Expectativas diferentes

Meditando estava eu outro dia, num momento desses raros, onde eu paro e penso... E ainda saiu algo de produtivo. Logo, agora temos um momento mais raro ainda. Pensei sobre expectativas frustradas e o que elas causam.

Certa vez, numa pesquisa empírica, aplicada por um professor (amalucado) que tenho na licenciatura em matemática (não por acaso aquele que vai me orientar na monografia de fim de curso), descobri que o medo de frustrar as expectativas de outros é um medo real e muito presente nas pessoas. Imagino isso num relacionamento homem-mulher (namoro, noivado, romance, gravidez, amizade colorida, tentativa de homicídio, etc), como é complicado. E lembro de um fato pessoal, que queria comentar aqui.

Anos atrás, eu fui convidado a pregar numa igreja, no culto jovem. O convite foi dado, a bem da verdade, à ABUB, não a mim especificamente. Não sou tão popular assim, e acho que, se aquela igreja me convidasse por si só, seria para apedrejar-me. Para quem não sabe, o culto jovem é uma cópia do culto promovido nos domingos, só que feito pelos jovens. Ou seja, nada de novo debaixo do sol (isso foi um comentário sarcástico, admito). Cheguei lá, preguei, falei sobre a necessidade dos jovens falar de Jesus nas suas escolas e universidades, etc.

Uma jovem que estava sentada lá no meio das trinta e poucas pessoas ouviu e gostou muito do que eu disse. Para ser exato, ela gostou mais de mim do que da minha fala. Naquele dia, ela passou em branco por mim. Confesso que não a notei, embora tenha reparado numa outra jovem, razoavelmente atraente e interessada na missão cristã que eu representava. Passou-se aquele dia, e os dias sucederam-se.

Cerca de um ano e meio depois, na Internet, esbarramo-nos, e ela, quando me reconheceu, contou a história, toda esbaforida (ela escrevia no chat feito uma metralhadora). Falou que tentou fazer amizade com uma amiga minha para se aproximar de mim, que queria visitar minha igreja (no meio evangélico, esse é um meio de se aproximar de um pretendente), etc. E que não acreditava que eu entrei em contato com ela... Enfim, ela estava muito empolgada.

Começamos a conversar, eu bem na minha, do jeito que a maioria dos que lêem essas missivas me conhecem: Calmo. Saímos uma vez, e naquele dia, eu resolvi tomar a máxima de Geraldo Vandré para mim: Quem sabe faz a hora, não espera acontecer. Roubei um beijo, e ela correspondeu. Como eu disse logo depois, os olhos dela diziam tudo. Olhos que, aliás, brilhavam, ela estava muito feliz com o fato. O príncipe encantado dela tinha chegado.

Só que foi aí que começou o problema.

Sem entrar em méritos de culpa, o problema que surgiu entre nós foi simples: Expectativas desbalanceadas.

Ela entrou com expectativas elevadas ao meu respeito. Ressaltou as qualidades que eu tinha (que existem sim, eu confesso), mas ao mesmo tempo, pintou um Ricardo que não existia. Acontece que eu solto gases, minhas fezes cheiram mal, tenho sujeira no nariz e falo besteira. Aliás, muita besteira. O santo tinha pés de barro.

Eu, ao contrário dela, entrei sem expectativas. Sempre adotei essa "política", e deixar que o tempo responda. Entrei quase pagando para ver no que ia dar, e até com 1 mês de relacionamento, eu só dizia: "Nós estamos saindo", não "Nós estamos namorando". Eu entrei com outras expectativas das dela.

Com isso, enquanto as minhas expectativas aumentavam, e eu me envolvia mais, gostava mais ainda dela... Ela se decepcionava na mesma proporção, descobrindo que o príncipe encantado era na verdade um sapo verruguento. Verruguento, mas bem-intencionado, anfíbio bacana, que tem qualidades, mas também tem defeitos.

Essa foi a raiz dos nossos problemas, e quase 1 ano e meio depois, fomos um para cada lado, sendo que passamos a maior parte tentando equilibrar as expectativas que não foram satisfeitas. Como certa vez que ela disse: "Eu pensei que você era o meu príncipe encantado". E eu respondi: "Eu não sou príncipe, sou um ser humano".

E teve muuuuuito mais coisa nesse desenrolar, mas prefiro não falar a respeito. Prometi à ela que não falaria aqui no blog a respeito do que ocorreu entre nós, embora já seja mais uma na prateleira das ex.

Então, o que concluo disso tudo, nessa noveleta mexicana... Algumas coisas, que listo aí embaixo:


  • Sempre entendi o namoro como o momento da descoberta, e ao mesmo tempo onde as expectativas devem estar baixas. A conquista deve ocorrer a cada dia, e a admiração construída a partir do cotidiano. Exemplificando, ouvi de uma senhora, casada há mais de 20 anos, falando a respeito do esposo dela: "Eu o admiro por tudo que ele conquistou, e pela pessoa que ele é".
  • Sempre é bom baixar a bola dela, quando ver que há um princípio de euforia. Nem que precise depreciar a própria imagem, falar mal de si mesmo, atirar no próprio pé. É drástico, mas ajuda.
  • Muito cuidado com a carência alheia. Isso pode gerar problemas, pois não é o seu papel cobrir os buracos emocionais que existem no coração de outro. Você entra como namorado, não como pai, por exemplo.
  • Se for preciso, abra o jogo. Como? Aí é problema seu. Ou meu. Fica ao seu encargo.

Logo... Vou publicar esse texto e repensar umas coisas. É importante. Se alguém tiver uma sugestão de música incidental, coloque aí embaixo, nos comentários. Não vale Joy Division, com Love Will Tear Us Apart, senão eu corto os pulsos com um barbeador elétrico.

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