07 maio 2005

Filosofações: Falta de heróis

Ontem dei uma passada na escola onde trabalho, para apanhar um porta-CDs e uma fonte ATX que tinha esquecido lá. Aproveitei para deixar os cadeados que comprei, para trancarmos os armários, e atualizar os servidores (e tome apt-get). Saio para a UFRJ, e na porta da escola, encontro um grupinho de alunos, onde um toca violão.

Eu não gosto muito das rodinhas de violão que só tocam MPB, e quando você propõe um rock, olham para você como se fosse um neanderthal. Mas essa tocava... Legião Urbana. Curioso, não?

O que achei curioso no fato é que Renato Russo está morto há mais de 5 anos (foi em 1996, 97 ou 98?), mas mesmo assim a juventude atual canta e gosta. O Renato é um poeta da minha geração, não da geração deles. O Legião, assim como o Paralamas do Sucesso e os Titãs, foram as únicas bandas dos anos 80 que sobreviveram ao vácuo dos anos 90. Foi uma banda que foi boa nos anos 80, e nos anos 90 viveu mais em cima da fama construída (segundo um entendido em Legião, amigo do trabalho, foi bom até o disco V), mas ainda mantendo um público fiel. Mas Renato Russo morreu, Dado e Marcelo foram cuidar da sua vida. Acabou.

Bem antes desse dia, eu vi um aluno ouvindo rock, "sacudindo os cachos", e pedi para ouvir o que ele ouvia. Era o quê? Smells Like Teen Spirit, do Nirvana. Nirvana, banda que acabou quando o Kurt Cobain deu um tiro na cabeça em 1993! A banda acabou há 12 anos, e ainda faz (muito) sucesso.

E eu perguntei a esse aluno: Por que você ouve Nirvana? Não tem algo bom, mas mais atual não? O aluno respondeu: Ah professor, essas bandinhas horrorrosas de hoje em dia? Não rola. Já tive aluno que disse que a banda favorita dele é Led Zeppelin. Led, dos anos 70! Confesso que fiquei chocado.

Fiquei pensando na carência de heróis que essa juventude de agora tem. A minha geração teve Cazuza (que era uma bicha debochada), Renato Russo (uma bicha sofrida, mas na minha opinião melhor do que o primeiro), Ultraje a Rigor gritando Inútil!, Capital Inicial fugindo da Veraneio Vascaína, Plebe Rude, Picassos Falsos, Zero, Nenhum de Nós (banda que adoro) e tantas outras. Os que vieram antes, ouviram muito progressivo, inclusive nacional (O Terço, Bacamarte, Terreno Baldio, Recordando o Vale das Maçãs), e rock internacional, do Ramones ao Yes, do Emerson, Lake and Palmer ao The Clash. A geração que veio depois teve Pearl Jam, Nirvana, Soundgarden, e ainda um pouco de Foo Fighters. O que ficou para agora? Nada. Você liga nessa rádio e só ouve bandas fracas de letra, que o som parece idêntico, e de muito mau gosto.


Teve gente que chorou dias com a morte do Renato. Alguns disseram que a vida perdeu o sentido. Agora, será que alguém vai falar isso por alguma dessas coisas que invadiram o dial roqueiro? Duvido. Vivemos uma época que as pessoas não tem mais referencial na sua geração, não tem mais quem os motive, falta sentido na música para eles. Música mexe com o ser humano, seja qualquer um, e ela acaba sendo catalisador de muitas coisas.

Vivemos uma geração sem utopias, nem sonhos. Estamos num vácuo que não resolve nem responde nada. E não adianta dizer que a banda tal, do tempo do ronca, tem uma letra atual. Se é atual é porque os problemas ainda são os mesmos. Mas ninguém novo surge para questionar Que país é esse?


PS:Confesso aqui, diante de todos, que eu não gosto de Legião Urbana. Pronto. Podem jogar as pedras. Sim, eu não gosto. Sempre achei o Renato um neurastênico, um resmungão, sujeito que, para ser feliz, o mundo tem que estar em paz. Sempre reclamando, resmungando, triste, cabisbaixo... Tanto que as músicas que eu mais gosto são as menos angustiadas: Eduardo e Mónica, O Mundo Anda Tão Complicado, Faroeste Caboclo, entre outras. Eu prefiro Paralamas, pois fazem sua manifestação, mas também divertem cantando. Ouvir Renato Russo estando na fossa, é querer pular dentro do poço.

PS 2: Nada contra MPB ou rodinhas de violão. Minha raiva é uma situação específica, que eu falei aí em cima. Mas que é chato para quem é roqueiro e sua namorada é metida a intelectual (ouve MPB e assiste Friends), é.

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