07 agosto 2005

Filosofações: Paixões, e o que elas despertam

Numa conversa hoje com uma amiga, começamos a falar de frivolidades, desde a convenção de Guerra nas Estrelas em que eu fui, até minhas preferências de ficção científica. Prefiro Jornada nas Estrelas. Mais denso, mais profundo, mais questionador... Mais filosófico. Ela está começando o curso do CEDERJ, de Biologia.

O CEDERJ é um consórcio de universidades públicas do Rio de Janeiro para prover ensino à distância, de uma forma semi-presencial. E ela comenta comigo que no curso há a disciplina de Introdução à Informática, uma apostila com 15 capítulos, onde o segundo fala sobre... Linux.

Confesso que tenho medo quando topo com explanações sobre software livre. Há muita enrolação, de gente que não entende nada, que confunde software livre com código aberto e tudo isso com gratuidade do produto. Muitos acham que o maior valor agregado ao software livre é ser gratuito (deixa eu citar o Linus: "Free as in free speech, not as in free beer"), e falam um monte de besteiras, como que Bill Gates criou a Internet (ouvi isso da irmã dela, que não é profissional de informática, mas coitada, ensinaram errado a ela).

E aí venho falar sobre uma questão importante... A falta de paixão de muitos. Ela questionou um pouco asperamente, por que eu estou tão preocupado com a questão do Linux, se isso afeta a minha vida. Ou melhor, usando a própria frase dela: Medo pq? até onde isso vai te atingir? Expliquei meus motivos, que estão no parágrafo acima. E , "Entenda que, como militante da causa do software livre, isso me atinge quando deforma o conceito e destrói a filosofia." (frase minha).

Quem não é da área, acha que isso é papo de quem não tem o que fazer. Mas continuei, só porque ela é psicóloga, tem que ter bons ouvidos (e ela fez 2o grau técnico em informática). Puxei uma comparação com a minha militância pela minha fé, como cristão protestante. Por mais que ela não tenha entendido a idéia, lembrei que é muito fácil ser cristão hoje em dia, e ao mesmo tempo tentar ser cristão, mais próximo do que Cristo falou, é e sempre foi difícil. Cristianismo não é algo que se alcance facilmente.

Para quem não é da área, comparar fé cristã com software livre é algo complicado. De alguma forma tem semelhanças, e uma delas é a paixão que despertam. Acho que uma coisa (das muitas) que faltam às pessoas é algo que as apaixone, uma causa que as impulsione, que as façam caminhar em frente. Acho a vida de alguns muito pobre, se resumida a viver, ter um bom emprego, bela família, propriedades... Lembrei na hora desse post aqui e aqui, do blog do Spy, falando dos caras que estudaram com ele na escola.

E isso que impulsiona pode ser ação social, software livre, fé militante ou Guerra nas Estrelas. De alguma forma canalizada também para a produção de algo que seja bom para a sociedade, para que, de alguma forma mude a aparência do mal que há em nossa sociedade. Do lado do colégio onde foi a Jedicon, existe um grande supermercado dessa rede aqui, fechado, abandonado. O motivo? Uma favela em frente, acho que é o Morro do Turano. Tiveram tantos problemas com furtos, roubos e assaltos que a rede preferiu abandonar a loja. Sai prejudicada a comunidade em si, como um todo. Será que não falta alguma coisa aí?

Exemplos? Eventos de animação japonesa que coletam alimentos para serem doados; militâncias políticas que se envolvem com problemas da comunidade, desinteressadas; grupos de software livre que dão treinamento gratuito em comunidades que mal tem dinheiro para comprar pão, quanto mais sistema operacional para o computador velho que existe na Associação de Moradores. Olha, as possibilidades são imensas. O LinuxFund é um excelente exemplo. Outro é o trabalho dos TeleCentros, que eu me confesso um profundo admirador.

Mas lembrei, 'sem bitolação'. Conheci um sujeito bem articulado politicamente, pessoa séria, envolvida com movimentos evangélicos de esquerda, etc... E que me desculpe o querido irmãozinho, mas quando abre a boca... Como ele é chato. Parece que a vida gira em torno disso, SÓ. Eu sou cristão protestante, todos sabem disso. Mas eu falo sobre um monte de coisas, inclusive sobre a minha fé (aliás, acho que falo pouco dela, deveria falar mais). Mas tenho uma vida, junto das questões da existência humana, e a resposta que encontrei em Cristo (não na religião), fazem parte junto com meu gosto musical esquisito e minha paixão por aviões militares (mas Deus nos livre das guerras).

Outra coisa que eu não tenho paciência é com pretensos teóricos de ação social. Eu tenho 2 conhecidos (rebaixei eles da categoria de amigos) que são excelentes teóricos de ação social: planejam, articulam, pensam, discutem e não fazem nada. São excelentes críticos, mas 'meter a mão na massa', que é bom, nada. Um deles disse que a 'minha missão é essa, de fomento, de não criar raízes...'. Ridículo! Justificativa para a bagunça?! Cadê o comprometimento com uma comunidade necessidada, igreja local, que se envolvem, comprometem, submetem (e como tem crente rebelde hoje em dia, diacho!)... Falam, discutem, teorizam... Mas 'na prática, a teoria é outra'. São teóricos de cadeira, chefes "Touros-sentados", que se colocaram numa posição e só ficam lá. Eu não aguento isso, em ramo algum do conhecimento humano.

A esse ponto, essa minha amiga já estava dizendo que não tinha paciência com gente que milita por causas não-cristãs e não-sociais. "Explicitamente sociais, você quer dizer", falei. E aí eu penso que mesmo como cristão, devemos manifestar-se contra as injustiças da sociedade. Mas também devemos ter prazer naquilo que fazemos. "Tem que gerar serotonina", ouvi certa vez.

Há uns 4 anos atrás, sentei num meio-fio e bati papo por 1 hora com um mendigo. Conversei com ele, perguntei da família dele, o que ele fazia, se ele gostava daquela vida... Falei que Deus ama ele assim como me amava, que ele podia procurar algo melhor para ele, tentei procurar uma casa de recuperação pelo telefone para ele... O homem só não me abraçou depois porque estava sem jeito, era 11 da noite no centro do Rio, no meio de um feriado e eu esperando um ônibus. Aquilo me fez um bem, me deu uma alegria tão grande... Eu, que estava mal naquele dia, voltei para casa dando pulos dentro do ônibus, de alegria. Não tem jeito, tem que ser de forma que a gente faça e goste. Tem que haver paixão, tem que gostar realmente daquilo.

E eu adoro mexer com meus MSX, ver um filme de ficção científica, ouvir rock progressivo... Faz parte da multifacetada vida que eu levo. Mas como disse, que não me venham criticar por fazer isso. A vida é minha e eu uso ela como quiser. É bom, eu gosto. Mas ela não se resume a isso. Nem à ação social com a qual eu me envolvo. Nem à missão cristã que eu abracei há muitos anos (13 até aqui). Pelo contrário, são faces do mesmo prisma (eu ouvi Dark Side Of The Moon?). Acho que devemos militar nas causas que afetam a sociedade. Como cristãos, devemos falar e gritar contra mensalões, propinas e corrupção. E também a favor de Cristo. É fácil dissociar os lados, mas o ser humano é um só. E não dá para separá-lo.

Claro que falei para ela nem 20% do que está aqui, mas encerrei citando os Telecentros para ela, como um exemplo de que software livre também é uma questão social. Mas aí, estava tarde e ela foi dormir. Quase 1 hora depois, vou eu. Não antes de escrever e postar esse testamento aqui. Agora, é minha hora. Até mais, chega de filosofações por hoje.

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