16 junho 2009

Filosofações: E do que adianta?

  • Um amigo meu, embalado pelo discurso de preservação do meio-ambiente, comprou as lixeiras coloridas, e começou a fazer a separação do lixo na casa dele. E foi separando o lixo, conforme manda o figurino: Lixo orgânico, papel, metal, vidro... E por aí vai. Até que ele viu como era feita a coleta no caminhão de lixo, no prédio onde ele morava. O lixeiro juntava TUDO, misturava TUDO, e de nada servia a coleta seletiva dele. Resultado: Parou de fazer.
  • Na minha igreja, o pastor coleta garrafas PET para reciclagem. Pegou um banheiro desativado, fechou o box e lá ele junta as garrafas que ele mesmo pega na rua, e que a gente leva. A gente amassa tudo, para ocupar menos espaço, e quando o box fica cheio, ele amassa o que falta e leva para reciclagem. Do dinheiro recebido, ele compra cestas básicas e mantimentos para pessoas que vez por outra passam lá e pedem, recebem alimento mas também ouvem da palavra de Deus. Só que ele está com problemas, pois poucos querem ficar com as garrafas. Quase ninguém quer mais garrafas PET, estão dando preferência a latas. E as PET estão acumulando.
  • Meu pai sempre juntou papel e papelão para reciclagem, muito antes de se falar em preservação do meio-ambiente. Mais recentemente ele ganhou de presente do Dia dos Pais uma máquina retalhadora de papel. É pequena e simples, mas que corta até 5 folhas por vez. Ele pega tudo o que é papel que vai ser jogado fora, retalha na máquina ("é uma terapia", diz ele), ensaca e leva a um depósito do lado da academia onde eu nado e ele treina. O dinheiro que ele recebe, ele dá para a igreja. É pouco, mas ajuda. Só que o dono do depósito está recusando o papel e o papelão, porque ele não tem para quem vender. Eu sei que papelão dá um lucro muito baixo (acho que R$ 0,01 por quilo), mas estão também recusando papel, já que o dono do depósito não tem o que fazer com o papel. Não querem comprar. O jeito é procurar uma associação de catadores de papel (que também devem estar com problemas) para fazer a doação.
  • Em muitos supermercados, temos agora a seção de alimentos orgânicos, onde temos hortifrutigranjeiros cultivados sem agrotóxicos. São produtos sem toxinas, com certeza mais saudáveis. Mas são mais caros, e esse é o principal problema. Um pé de alface custa R$ 0,70, em média, no supermercado. O alface orgânico custa pelo menos o dobro: R$ 1,50. A população ganha pouco? Sim, ganha. Mas tenho certeza de que a maioria - incluindo aqueles que tem poder aquisitivo para adquirir alimentos orgânicos, mesmo mais caros - prefere o mais barato. É a mesma coisa da fila de posto com GNV, e que já aconteceu comigo: Tem um posto com um preço imbatível, e uma fila de gente para abastecer que vai te fazer esperar por 30 minutos. Mas pouco mais à frente, tem um outro posto com um preço não tão bom (digamos, R$ 0,05 por m³ mais caro), mas sem fila. No final das contas, você gasta R$ 0,30 a 0,40 a mais, mas economiza quase meia hora de espera. Compensa?
Isso me lembra uma história: No século XIX, na Inglaterra vitoriana, minha igreja (Exército de Salvação) comprou uma fábrica de fósforos, e começou a produzí-los. Acontece que a produção de fósforos naquela época era em condições muito insalubres: Uso de fósforo branco (tóxico), ambiente mal-ventilado, poluído, salários ridículos, crianças trabalhando... Logo, havia uma certa quantidade de vítimas fatais nas fábricas de fósforo.

O Exército adquiriu uma fábrica, e mudou o modo de produzir fósforos: Passou a usar fósforo vermelho (não-tóxico), ventilou as fábricas, despoluiu os ambientes, pagou salários justos, colocou crianças em escolas, e por aí vai. O slogan do fósforo produzido era: "O nosso fósforo não mata". O preço era o mesmo dos fósforos de outros fabricantes. A população, lógico, preferiu o fósforo do Exército de Salvação, e rapidamente tornou-se líder de mercado. As outras fábricas foram obrigadas a mudar a sua forma de agir, e pouco a pouco, todas as fábricas migraram de uma forma de produção para outra, bem melhor. Quando todas migraram, o Exército de Salvação vendeu a fábrica. William Booth, o fundador, disse: "Nosso chamado não é para vender fósforos. Fomos chamados por Deus para mudar essa sociedade". Mas isso só foi possível porque o preço era compatível.

Ou seja... Tanta campanha para preservação do meio-ambiente, tanto incentivo, TI verde, uso mais racional... Só vai funcionar se for financeiramente compensatório. Não adianta falar que é importante, tem que trazer compensação. Alimentos orgânicos são melhores? Sim, mas são mais caros. Se o preço for igual, muitos vão nesse sentido, e a agroindústria vai ter que se virar. Coleta seletiva de lixo só será realmente feita se ela for realizada pela companhia que recolhe o lixo nas casas. Senão é tiro n'água. Reciclagem de papel, papelão, garrafas PET... Só vai dar certo se render dinheiro para o bol$o das pessoas, mesmo que não dê para comprar o jornal popular que vendem nas ruas. Senão, não vai valer a pena, será discurso vazio, apenas. E nada de prático.

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