31 maio 2009

E a gente reclama de pouco...

  Tenho um amigo de infância lá da igreja que voltou para os caminhos de Deus recentemente. Ele saiu, foi viver com uma moça, filha de pastor. Viveram juntos, depois casaram. Tiveram 2 filhos. Tiveram muitas brigas, e acabaram separando-se. Devido a circunstâncias que não iremos discutir, ele teve que assumir a guarda dos meninos, e voltou à igreja por volta de maio de 2008, começando a passar por dificuldades financeiras. Ele é segurança, sofreu um acidente de trabalho (estapeou um arruaceiro que o agrediu dentro de um shopping center, e quebrou alguns ossos da mão), e recentemente foi chamado de volta.
  O filho mais velho tinha um caroço no pescoço, do lado direito, e o pai levou-o ao médico para ver. Exame de sangue, baixa nas plaquetas... Sim, câncer. O menino tem câncer linfático. Ainda está no início, é correr e tratar. A vida dele vira de pernas para o ar: Começa a quimioterapia, o menino perde todo o cabelo (o que é um bom sinal), ele volta da licença médica para o trabalho... Falta o dinheiro, aumentam as preocupações... É hora de achegar-se mais a Deus e à igreja, já que a família, embora numerosa, não ajuda muito. Chegou a mandar correspondência para o Caldeirão do Huck, para ver se no Lata Velha ele ganhava a reforma do carro (um Voyage bem mal-tratado), para poder levar o filho para o tratamento. O menino trata na UFRJ, e ele mora em Bangu (uma distância de 30 km, acho).
  É uma luta que parece não ter fim. A gente ajuda no que pode: Periodicamente Cláudia manda uma bolsa de compras, e além das orações, temos oferecido consolo, apoio e amizade. Deus está no controle, e o médico está muito feliz com a caminhada dele. Apesar das quimioterapias que trazem vômitos e muito sofrimento, da radioterapia localizada que ele ainda fará no pescoço (para ter certeza de que esse tumor será definitivamente eliminado), ele está reagindo bem ao tratamento, e a esperança de que até o fim do ano ele só continue na manutenção, que deve ainda acontecer por pelo menos 5 anos. Ele vendeu o que sobrou do Voyage, raspou o fundo do tacho e comprou um Monza. Deu uma ajeitada, fez cabeçote, carburador... E o carro foi furtado. Desgraça pouca é bobagem? Talvez, mas, como ele mesmo diz, foi por Deus que o carro foi furtado e não roubado, porque ele poderia reagir. Afinal, ele é segurança e tem porte de arma. A arma dele foi junto com o carro.
  O tempo passou, ele conheceu uma mãe, numa situação parecida com a dele: Sozinha, 2 filhos, o mais velho tratando câncer também. Leucemia, no caso desse menino. Começaram a namorar e caminhar juntos. Ela tem ido também à nossa igreja. Hoje, conversando com o pastor da minha igreja, fiquei sabendo que o filho dela, o que tem leucemia, foi desenganado pelos médicos. No caso dele, não tem jeito. Um transplante de medula não resolveria a situação, embora fosse possível tirar parte da medula dele, tratar e realizar uma infusão. O câncer começou a atingir o pulmão e outras partes do corpo. Agora é a vontade de Deus. E estamos orando.
  É difícil olhar para o menino, todo arrumadinho para ir à igreja, e saber que, segundo os médicos, ele vai morrer. Quase chorei hoje, quando o vi saindo do escritório, onde ele, a mãe, o namorado da mãe (esse meu amigo) e mais um presbítero da igreja tinham orado. Esse meu amigo estava com os olhos vermelhos, e os meus se encheram de lágrimas naquele momento. Um dos nossos maiores medos é que, caso aconteça, isso abale o filho do meu amigo, o que tem câncer linfático. Ele já perdeu 3 colegas de quarto nesse tempo de tratamento, e não é nada fácil para nós, adultos. Extrapole para uma criança de 10 anos.
  Por mais que saibamos que a vontade de Deus é soberana, ainda nos ansiamos e nos preocupamos. Por mais que queiramos que tudo ocorra na forma que queremos, nem sempre é assim. Lembro-me da oração do C. S. Lewis, pedindo a Deus para mudar o seu coração, e entender a vontade de Deus. No caso dele, Joy Gresham morreu, não teve jeito. É difícil. E, se Deus não curá-lo? Bendito seja o Seu Nome, e bendita seja a Sua vontade. Muitos tem o péssimo hábito de jogar a culpa em Deus para os fatos que ocorrem no mundo. Gente que culpa o Senhor das mazelas e sofrimentos que temos por aqui. Meio que parecido com a idéia do governo como o "pai de todos" (que vem de Getúlio Vargas, a propósito).
  E lá é a culpa de Deus para o sofrimento nosso? Como o próprio C. S. Lewis disse: "O sofrimento é o megafone de Deus". Muito fácil falar que não dá para acreditar em Deus com tanto sofrimento no mundo. E eu me pergunto se essa pessoa que está justamente dizendo isso, aceitaria e admitiria ser manipulado por um ser superior, mesmo que fosse para ser o melhor para ela. Eu duvido que a perda da liberdade individual e do livre arbítrio valha isso. Ninguém toparia. Por isso, é fácil argumentar sem argumentos. E enquanto isso, o que podemos fazer é pedir a Deus a Sua misericórdia e a realização da Sua vontade. Porque, por mais que seja difícil aceitar, ela é o que temos para nos agarrar. O sofrimento é o caminho que temos para entender que Deus não é uma esperança, a mais importante, ou a mais certa. Ele deve ser a nossa única esperança. E se não for assim, estaremos fadados a andar em círculos, perdidos, sem saber o que fazer.

  PS: E a mãe do menino, ex-esposa desse meu amigo, como está nessa história toda? Olha, pelo que eu sei, não está ajudando em (quase) nada. A vi uma vez lá na igreja, e o menino falou com ela, mas estava distante... Parece que ela agora quer "curtir a vida". O que é lamentável, já que, independente das rusgas que tiveram, o filho não tem nada a ver com isso. Mas, como dizem: "Começou tudo errado, não tinha muito como ir parar em outro lugar."

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