23 dezembro 2013

F-X2: Perguntas, respostas, opiniões... Parte 4: O Dassault Rafale.


O Rafale já voava em protótipo quando comecei a ler sobre aviação militar, lá nos anos 1980. A França, depois de um longo tempo, resolveu substituir os Dassault Mirage III/V/2000 da sua Força Aérea, e optou pelo Rafale, da mesma Dassault. Ele é um caça de asa em delta (paixão dos franceses, pelo visto), canards (aquelas asinhas na frente, perto do piloto), e é considerado um caça de geração 4,5. Ele tem uma versão feita para operar em porta-aviões.



Vamos a alguns números dele:
  • Pista para pouso e decolagem: 400 m.
  • Velocidade máxima: Mach 2,0.
  • 6000 kg de bombas e mísseis.
  • 2 turbinas.
  • 15,27 m de comprimento.
  • Aviônica em boa parte produzida na França.
O Rafale é um caça multi-função, podendo operar como caça-bombardeiro ou interceptador. Ele tem 15 cabides de armas (podendo levar tanques de combustível extras), e o radar é um Thomson-CSF Detexis RBE-2, operando junto com o sistema OSF (Optronique Secteur Frontal), que inclui câmeras infravermelhas FLIR, telemetria laser, entre outros. Apesar de ser um caça de 4,5ª geração, ele não tem o que vários outros da mesma geração tem, que é o radar com varredura ativa AESA.

Ele entrou em operação em 2000, mas seu desenvolvimento iniciou-se lá para meados dos anos 1970. Os protótipos são de 1983, mas todo o processo foi penoso e demorado, visto que era para ser um projeto único europeu, mas dois anos depois, as discordâncias fizeram nascer o Eurofighter Typhoon (Alemanha, Itália, Espanha e Reino Unido) e o Rafale (França). O motor, a propósito, é um SNECMA M88 (francês), mas ele já voou com motores da GE (americano).

O desenvolvimento arrastou-se pelo final dos anos 1980 e toda a década de 1990, sendo colocado em serviço no final de 2000. As encomendas foram de 294 Rafales, mas foram reduzidas para 120. Em termos de custo, o Rafale custa 65 milhões de euros cada (cerca de US$ 88 milhões) na versão para a Força Aérea, e 70 milhões de euros (US$ 95 milhões) para as versões marítimas, o que torna-o pouco mais que o dobro do preço do Gripen.

Vamos então explicar algumas coisas a respeito do Rafale que são necessárias, e que podem trazer a mentes abertas algum esclarecimento a respeito:
  • O Rafale é um avião caro, conforme foi visto acima. Além disso, a manutenção dele é cara. Para o Brasil, ter aviões franceses seria o ideal, dada a nossa longa estadia com caças franceses (Mirage III/V/2000). Há quem diga que os manuais de manutenção dos Mirages nem foram traduzidos. Mas o custo é um problema sério.
  • Eu já disse que uma medida de sucesso para qualquer aeronave mede-se em vendas dele para outros países. O Rafale é campeão em perder concorrências: A Índia é a bola da vez, tendo adquirido 126 caças Rafale. Creio eu ser o primeiro país fora da França a efetivamente adquirir Rafales. O resto é promessa: A Líbia ia comprar 13 a 18 Rafales, mas a guerra civil solapou tudo. No caso da Grécia, houve também o interesse, mas nada além disso. A Suíça estava também selecionando caças, e o Rafale fazia parte da concorrẽncia. Só que perdeu para o SAAB Gripen. O Kuwait falou em comprar até 28 Rafales, mas não saiu da suposição, assim como a Polônia. Concorrêncas para as forças aéreas de Cingapura, Inglaterra, Coréia do Sul, Marrocos e Omã foram perdidas, tendo outros caças vencido a concorrência. Os Emirados Árabes Unidos estão em negociação. Logo, tendo vencido apenas uma concorrência, ele não é bem sucedido.
  • O Rafale é menor e mais leve do que o Su-35, e usa armamento francês ou americano, o que é bom: variedade de armas.
  • Na Índia, a nacionalização chegará a 100%, mas a meta, no Brasil, era chegar a 50%, a princípio.
  • Aviônicos, na sua maioria, franceses. É bom, mas caimos no mesmo problema dos Sukhoi. Se bem que o pós- venda francês tem fama de caro e inseguro. Qualquer dúvida, veja a situação dos nossos Mirage.
  • O Rafale foi bem-sucedido em missões de combate no Mali, Afeganistão e Líbia.
  • A proposta é de transferência total de tecnologia, e montagem do Rafale no Brasil. Mas provavelmente tudo ficaria na mão de empresas francesas, com filiais no Brasil. Meu pai sempre diz que "não se confia em franceses quando o assunto é dinheiro". A Light que o diga.
Bem, o grande problema do Rafale é o custo. Ele é caro de manter, de comprar e de voar. Isso é o principal entrave, a compra de 36 aeronaves mais treinamento, equipamento, peças de reposição e outros levaria ao montante de US$ 9 bilhões, o que é quase o dobro do projeto com o Gripen.

Houve aquela situação, em 2009, em que o presidente Lula falou que iríamos comprar Rafales, e o presidente francês, Nicolas Sarkozy, veio para as comemorações do 7 de setembro. Como disse um militar da reserva, "o presidente é inteligente e responsável, e não falaria isso se não estivesse mal assessorado". A decisão não é tomada unilateralmente, pelo presidente da República. Qualquer que seja, ele sabe a responsabilidade que o cargo traz. A motivação é um acordo de cooperação entre Brasil e França, que envolve, entre outras coisas, o novo transporte militar de tropas e cargas desenvolvido pela Embraer, o KC-390 (compra de 10 desses condicionada ao Rafale), blindados, submarinos diesel-elétricos e o submarino nuclear brasileiro (que um dia sai!). Logo, seria um grande pacote englobando tudo. Vale lembrar que em 2013, o preseidente francês François Hollande veio com o presidente da Dassault em pessoa para conversar sobre a venda dos Rafale.

Houve quem dissesse que deveria ter sido dado um voto de confiança à França, apesar dos problemas do Rafale. Vale lembrar que a França ficou 40 anos sem fornecer material bélico ao Brasil por causa da venda de aviões ao governo Vargas em 1932. Ela pegou um adiantamento depois da negociação mas se recusou a fazer a entrega devido a “razões humanitárias”. E não quis devolver o dinheiro. O governo brasileiro só recuperou o adiantamento mais de um ano depois. Eles foram até os EUA, que atenderam o pedido sem problemas. O Brasil só voltou a comprar da França (os Mirage) em 1972, pois os EUA se negaram a fornecer o F-4 por motivos ligados a ditatura militar. Mesmo os americanos forneceram os Northrop F-5 que ainda estão aí, voando. Os Mirage III já viraram sucata, e os Mirage 2000 (comprados da França) estão indo para a “reciclagem” no fim de 2013. Logo, vamos por as barbas de molho com os franceses.

No próximo post, falo do F/A-18.

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