O mundo de pouca articulação e muita imaginação
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Todo mundo que viveu os anos 80 lembra-se do Playmobil. Muitos meninos, principalmente aqueles que não eram tão chegados a jogar bola e soltar pipa, gostavam de "brincar de casinha" (como alguns menos esclarecidos diziam), e soltavam a imaginação.
Eu não era diferente. Meu primeiro set de Playmobils foi um de bombeiros. Eram 7 bonecos, portando aquele chapéu engraçado (que muitas vezes foi colocado ao contrário), e aquelas garrafas pontudas que, na minha inocência de 4 anos e uns quebrados (era 1978), achava que era algo como um jato de mão. Na verdade, era apenas um extintor.
Os Playmobils surgiram poucos anos antes, na Alemanha. 1974, para ser exato, no auge da crise do petróleo, e no ano em que eu nasci. Foi a saída que Hans Beck teve para evitar a falência da empresa em que trabalhava, a Geobra. Afinal, plástico subiu de preço, e um brinquedo pequeno, que coubesse bem na mão de uma criança... Gastaria pouca matéria-prima. O resto vocês podem ver na Wikipédia, ou no site Mundo Playmobil. O sucesso foi tanto que a fábrica passou a produzir só Playmobils, e licenciou-os para o mundo todo.
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Eram a prova d'água, tinham 4 pontos de articulação (pernas, 2 braços e cabeça) e sempre a mesma cara. Mas eram quase mágicos. Os detalhes, como os relógios de pulso, as peças para fazer o arreio da diligência, as chaves para soltar a trava dos pneus (de borracha) do carro de corrida... Impressionava a todos, inclusive os mais velhos (meus pais).
E por serem à prova d'água, no verão viviam na piscina de plástico que tínhamos armada no quintal, e de lá não saíam, nem ele, nem nós. Ainda mais que tinha um escafandrista (com direito a pesos nos pés e tubinho para soprar ar) e 2 homens-rã, com aqualung e tudo. Quando íamos fazer compras com meus pais, à noite, em grandes supermercado (onde comprava-se achocolatado em caixas de 2 kg para economizar), o que a gente mais queria era ir para a seção de brinquedos, ver as caixas com os Playmobil e sonhar que tínhamos aqueles sets que nunca poderíamos ter, como o da estação espacial.
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Não acompanhei o que veio depois. Cheguei a ver os mais recentes, com punhos que giram (6 pontos de articulação!), depois a falência da Trol, a volta pela Estrela, depois a importação a partir da Arghentina... Histórias com os Playmobil tem várias, desde a lancha que navegava devagar demais (ao contrário do comercial) até o "homem que veio do frio" (aquele boneco que eu vivia metendo dentro de um copo de iogurte com água, dentro do congelador). Mas nunca destruí um Playmobil. Não achava certo, no fundo eu os olhava como gente, com nome e sobrenome, com função dentro do mundo que tínhamos concebido... Logo, seria errado. É, eu era lawful good há tempos.
É... Vou dormir um pouco mais triste hoje. Mas também, mais nostálgico e feliz, por ter relembrado tanta coisa boa.
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