04 fevereiro 2009

O mundo de pouca articulação e muita imaginação

Acabei de ler no blog do César que Hans Beck, o criador de boa parte da diversão da minha infância, faleceu hoje. Ele era o criador do Playmobil.

Todo mundo que viveu os anos 80 lembra-se do Playmobil. Muitos meninos, principalmente aqueles que não eram tão chegados a jogar bola e soltar pipa, gostavam de "brincar de casinha" (como alguns menos esclarecidos diziam), e soltavam a imaginação.

Eu não era diferente. Meu primeiro set de Playmobils foi um de bombeiros. Eram 7 bonecos, portando aquele chapéu engraçado (que muitas vezes foi colocado ao contrário), e aquelas garrafas pontudas que, na minha inocência de 4 anos e uns quebrados (era 1978), achava que era algo como um jato de mão. Na verdade, era apenas um extintor.

Os Playmobils surgiram poucos anos antes, na Alemanha. 1974, para ser exato, no auge da crise do petróleo, e no ano em que eu nasci. Foi a saída que Hans Beck teve para evitar a falência da empresa em que trabalhava, a Geobra. Afinal, plástico subiu de preço, e um brinquedo pequeno, que coubesse bem na mão de uma criança... Gastaria pouca matéria-prima. O resto vocês podem ver na Wikipédia, ou no site Mundo Playmobil. O sucesso foi tanto que a fábrica passou a produzir só Playmobils, e licenciou-os para o mundo todo.

Eu sou da geração que conheceu os Playmobils produzidos no Brasil pela Trol. E reconhecidamente, foi o meu brinquedo favorito. O conjunto somado por mim e meu irmão consiste em cerca de 40 bonecos, 2 helicópteros, 1 lancha de passageiros, 1 lancha de corrida, 1 bote salva-vidas, 3 carros (sendo um de corridas), 1 furgão dos bombeiros, 6 cavalos, bois, vacas, 1 moto, 1 diligência e 1 carroça (Velho Oeste)... E entre os bonecos, tínhamos bombeiros, cavaleiros medievais, uma banda marcial, policiais, cowboys, pilotos de corrida, entre outros. Só não entendia porque o helicóptero e o carro da Polícia eram verdes e com o adesivo Polizei estampado. Mal sabia eu que eram alemães...

Eram a prova d'água, tinham 4 pontos de articulação (pernas, 2 braços e cabeça) e sempre a mesma cara. Mas eram quase mágicos. Os detalhes, como os relógios de pulso, as peças para fazer o arreio da diligência, as chaves para soltar a trava dos pneus (de borracha) do carro de corrida... Impressionava a todos, inclusive os mais velhos (meus pais).

E por serem à prova d'água, no verão viviam na piscina de plástico que tínhamos armada no quintal, e de lá não saíam, nem ele, nem nós. Ainda mais que tinha um escafandrista (com direito a pesos nos pés e tubinho para soprar ar) e 2 homens-rã, com aqualung e tudo. Quando íamos fazer compras com meus pais, à noite, em grandes supermercado (onde comprava-se achocolatado em caixas de 2 kg para economizar), o que a gente mais queria era ir para a seção de brinquedos, ver as caixas com os Playmobil e sonhar que tínhamos aqueles sets que nunca poderíamos ter, como o da estação espacial.

Eu adorava os Playmobil, e ainda gosto deles. Rendeu muitas e muitas horas de brincadeira, e muito gasto em fita durex, isopor e papelão. Já que eu não podia ter todos os aviões e carros e veículos que eu queria ter... Eu os fazia. E tome fita. A geração seguinte viu a "concorrência feroz" do Lego, e fascinaram-se pelo brinquedo de encaixe e imaginação. Mas o Playmobil, naquele mundinho onde todo mundo sorri, tem cabelo espetado, 4 pontos de articulação e maioria maciça de bonecos (e poucas bonecas, com a saia levantada e cabelo em cachos), era e ainda é imbatível, para mim. Se revirar debaixo da escada, lá na casa dos meus pais, ainda acha-se alguns livretos com os conjuntos, justamente para fazer com que a gente já soubesse o que queríamos. Era ir direto na jugular do pai, já sabendo o que pedir, e negociando, caso aquele set fosse caro demais.

Não acompanhei o que veio depois. Cheguei a ver os mais recentes, com punhos que giram (6 pontos de articulação!), depois a falência da Trol, a volta pela Estrela, depois a importação a partir da Arghentina... Histórias com os Playmobil tem várias, desde a lancha que navegava devagar demais (ao contrário do comercial) até o "homem que veio do frio" (aquele boneco que eu vivia metendo dentro de um copo de iogurte com água, dentro do congelador). Mas nunca destruí um Playmobil. Não achava certo, no fundo eu os olhava como gente, com nome e sobrenome, com função dentro do mundo que tínhamos concebido... Logo, seria errado. É, eu era lawful good há tempos.

É... Vou dormir um pouco mais triste hoje. Mas também, mais nostálgico e feliz, por ter relembrado tanta coisa boa.


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