07 janeiro 2008

O divino do rock

Vir a Saquarema e não visitar a casa do Serguei é como ir ao Rio e não ver o Corcovado. Cláudia sabia onde ficava, e fomos lá visitar. Descobrimos que a casa do senhor cujo apelido é Sérgio Bustamante de Oliveira (o nome é Serguei) é ponto turístico de Saquarema, o Museu do Rock. Sim, museu, com direito a placa e apoio da Prefeitura. A casa antiga era uma ruína, cheguei a ver, mas fomos na casa nova. O terreno foi doado pela Prefeitura, e a construção bancada por Russell Coffin, um estadunidense morador da cidade e apaixonado por rock. Serguei é funcionário da Prefeitura, quem diria, ganhando um salário para expor a todos... A sua casa.

Confesso que ficamos sem graça de bater na porta da casa dele, e pedir para entrar. Mas uma família que veio ver a casa também, chamou-o, que veio nos receber à porta, e pediu apenas duas coisas: Que tirássemos os sapatos, e que deixássemos R$ 2 numa caixa, que ele usa para a manutenção da casa. Quando fomos lá, o jardineiro passou mal, e não completou o serviço, que é fazer o símbolo da paz mundial (o famoso símbolo dos hippies, "Paz e Amor") no jardim. Não estava completo. Acima, 3 bandeiras: A bandeira da paz mundial, a bandeira do sul dos Estados Unidos (sim, a bandeira confederada - representando o blues), e uma bandeira estilizada dos EUA (representando o rock).

A casa é muito bacana: De posters dos Beatles a uma bandeira com o rosto do Elvis Presley, passando por ícones do progressivo como Jethro Tull, e chegando a bandas mais atuais, como Guns n' Roses e Pearl Jam (no closet convertido em sala de leitura). Muitos recortes de jornal nas paredes, falando dele que é a lenda viva do rock nacional. Mesa no chão e pufes para sentar e comer (à moda riponga), televisão, videocassete, DVD, CDs e LPs de rock (incluindo Simple Minds e Dire Straits), flores no quarto, Jim Morrison, Ozzy Osbourne e Grateful Dead nas paredes. Bandeiras inglesas e uma "canga" do Iron Maiden na parte de cima da casa, além dos quatro integrantes do Kiss, pendurado do lado de fora.

Se ele transou com a Janis Joplin? Desconversou: "Bem, éramos um grupo grande de amigos...". Mas vestiu uma camiseta num desfile de moda recente, trazendo a inscrição: Eu comi a Janis Joplin. No programa do Jô Soares, ele foi 8 vezes. Nas paredes, uma homenagem de Paulo Coelho e recortes remontam o seu passado, que se mistura ao da música no Brasil: desde o protesto contra a ditadura (Revista Intervalo, 1967), até o ensaio nu para a revista Trip, recentemente: "Vocês, jovens, são com certeza mais bonitos do que eu. Mas com certeza eu sou mais sexy!". Parece que o pessoal da G Magazine esteve por lá, na semana anterior. Mas não falou nada se é homossexual ou não. Parece que ele se declara pansexual, de que "transa" com árvores, ou com qualquer um só com o olhar. Mas não mencionou nada a respeito. Não tem computador, freqüenta lan-houses para ler o seu email. Segundo um amigo, ex-dono de uma das primeiras lan-houses da cidade, ele também gosta de jogar Counter-Strike.

O homem tem agora 74 anos, uma voz rouca, olhos claros, e esbanja simpatia e simplicidade: "Se vocês tiverem alguém para vir me buscar e me trazer de volta, eu vou lá e canto para vocês. Afinal, tudo pelo rock and roll!" - ele falou para um membro de uma irmandade de motoqueiros, sediada em Campo Grande, bairro do Rio, que visitava-o junto conosco. Não se omitiu em nenhum momento em tirar fotos, e mostrou seu orgulho, seus 6 cachorros. Todos vadios, todos vira-latas, que ele pegou nas ruas de Saquarema e tem criado. Um deles, inclusive, é cego, e fica no quarto dele - com ar-condicionado ligado direto. Faz-se de "dona de casa", e pediu um avental a nós, de presente.

Foi um prazer, e uma diversão. Voltamos 2 dias depois, para pegar um autógrafo com ele, numa foto em que tiramos juntos, e ele reclamou: "Logo essa, que eu pareço que estou grávido?". Nas costas, escreveu:

Babies,
Rick Ardo e Maria Cláudia
I love you.
Rock and roll!
Serguei 2008

Quanto ao "Rick Ardo", ele disse: "apenas uma viadagem no nome, qualquer coisa a culpa é minha". E me olhou, e disse que eu pareço com o Lars Grael... Já pensaram, num encontro de MSX em Saquarema, com o Serguei cantando de noite? Olha, não é impossível...

As fotos, posteriormente, estarão no Flickr.

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