G3 no Claro Hall
Estou sem escrever faz um tempo, e passo por um momento curioso: Muita coisa que eu gostaria de escrever, mas e a falta de vontade em escrever? Aí é complicado. Mas queria contar do show que fui assistir no Claro Hall, o show do projeto G3.
O G3 (não é o Oficina G3, banda gospel de rock) é um projeto organizado por Joe Satriani e Steve Vai, dois grandes guitarristas de rock, tocam rock instrumental (eles quase não cantam), convidando sempre um terceiro guitarrista para tocar. Eles organizam shows onde cada um toca algumas músicas, e depois da apresentação dos três, rola uma jam session para delírio dos fãs. (Quase) tudo instrumental.
Eu sou fã do estilo do Joe Satriani: Som mais trabalhado, melodioso, mas sem tirar o peso. Guitarra destacada (Ibañez), bateria bem marcada, acompanhamento de outras guitarras e baixos, às vezes algum teclado. Mas isso também não quer dizer que eu não goste do Vai. O Vai foi aluno do Satriani, e é bem parecido, mas segue num rumo próprio: guitarras mais estridentes (também Ibañez), um pouco mais experimental... E mais peso ainda.
Pois é, eles já fizeram apresentações com o Eric Johnson (que rendeu o primeiro CD do projeto), Yngwie Malmsteen em 2003 (que toca muito pesado e já mandou a Quinta Sinfonia de Beethoven de um jeito muito louco) e esse ano, o convidado é o Robert Fripp, guitarrista e líder do King Crimson, e exímio músico. Reza-se a lenda que o Fripp, no auge do psicodelismo de sua banda, gravava a base de guitarra em separado do resto da banda, e quando mixava para o disco, ele invertia a mesma. Muito louco.
Pois é, e foi esse o show. Caríssimo, por sinal. R$ 90 pela pista, R$ 100 na mesa. Resolvi ir quando um amigo do trabalho (Marcelo) animou-se a ir pq ele tinha direito a desconto de 50% (ele é aluno da Estácio), e fomos nós. Abaixo coloco as minhas impressões que anotei no Clié, durante o show.
Robert Fripp
Quase não consegui ver o Robert Fripp tocando, já que no momento em que ele tocava eu estava entrando no Claro Hall e catando meu lugar. Ele foi pontual, começou às 22:30 exatamente, e tocou uns 20, 25 minutos. Curioso é que ele toca no canto do palco (e fez isso toda a noite), meio escondido, na penumbra, com efeitos no telão... Sim, bem psicodélico. Para quem não gosta, um pouco enjoado. Ensaiaram algumas vaias, alguns adolescentes bobões gritaram "Eu quero o Vai!", o que é um tremendo desrespeito a um músico com 40 anos de estrada e com a capacidade do Fripp.
Steve Vai
De cara, o Vai sobe ao palco com uma guitarra... De três braços. Isso, 3! Eu já vi guitarra e baixo num corpo só, mas a dele era uma guitarra normal e mais duas que me pareceram de 12 cordas. Uau! Ele começa elogiando a platéia brasileira, que é muito vibrante, uma das melhores com as quais ele já tocou. Hum, legal!
A banda dele era formada de mais 4 guitarras, 1 baixo e uma bateria nervosa (o baterista nem usava camisa, para não ter trabalho). Como não conheço muitas músicas do Vai, o que ficou mesmo foi a guitarra estridente dele, a impressionante habilidade dele ao tocar (colocando guitarra nas costas, invertendo as mãos, tocando até com a língua), e o ventilador que esvoaçava o cabelo dele (propositalmente), deixando-o com uma aparência um tanto quanto gay. Well, tem gosto para tudo (como uma amiga minha, que disse: "Ele continua lindo mesmo parecendo gay"). Uma hora de show, impressionante. Vai rox.
Joe Satriani
Aí entra o Satriani, depois de bateria trocada e alguns ajustes (uns 20 minutos de espera). Nossos ouvidos já estavam meio espoucados. A banda dele sobe composta por cinco integrantes (baterista tocando de headphone - para ouvir o próprio retorno), 3 guitarras e um baixo. O Joe sobe de tênis, camiseta, jeans, e de óculos escuros. Como há muito tempo, careca. O Joe fala que é uma alegria voltar a tocar no Brasil, e começa atacando. E ataca com Satch Boogie (uma das minhas favoritas e que não tinha ouvido ao vivo), Cool #9 (surrada mas maravilhosa), a melada Always with me, Always with you, Flying in a Blue Dream, Surfing with the alien e outras que eu não lembro. É difícil pegar porque não tem letra, aí diferenciar é com base nos acordes.
Num dado momento, o Robert Fripp começa a acompanhar no canto o show, tocando na sua guitarra semi-acústica. E ainda para completar, algo inédito: O Joe cantou duas músicas. Inédita porque o show é basicamente instrumental, e tirando o CD do G3 que eu tenho, eu só vi ele cantar uma vez: Big Bad Moon, do ao vivo em São Francisco (CD 2, faixa 9). E como cantor... Ele é um ótimo guitarrista. Ele canta bem, mas toca muito melhor! O show foi ótimo, mas o show que vi no ano passado (também no Claro Hall) foi melhor.
Atualização: O set-list que fisguei no fórum do site do Steve Vai disse que o show do Satriani teve essas músicas aqui embaixo. Algumas são do disco novo (Is There Love In Space?), que eu ainda n ouvi.
- "Cool #9"
- "Gnaahh"
- "I like the Rain"
- "Always with me, always with you"
- "Up in Flames"
- "Is there love in Space?"
- "War"
- "Flying in a blue dream"
- "Surfing with the alien"
A Jam
Vai (que parece o Bono Vox nos tempos de Joshua Tree e Rattle and Hum) e Satriani são grandes amigos e não escondem isso. Quando Vai volta ao palco, Satriani o abraça e elogia a habilidade do amigo. Fripp sentado, no fundo. Coisa esquisita, isso. Well... Eles começam a tocar. Nisso, o Claro Hall já está todo de pé.
Começa a jam: Mandam Ice 9 (que é uma citação a um conto do Kurt Vonnegut, um dia eu explico), e o Fripp se destaca. Vai e Satriani reverenciam o mestre. Heheh! Muito bom! Depois mandam umas do King Crimson (a maioria desconhecida de quase todos), cantam Rockin' In The Free World e tocam mais algumas, até encerrar. Sem bis. O curioso é que não pediram bis. Mas também, já tinham passado umas 3 horas de show, todo mundo cansado... Nem sei se dariam o bis.
Minha avaliação
O show do Vai foi o melhor, queria ter ouvido melhor o Fripp, e o Satriani arrasou, como sempre. Mas o show de abril 2003 foi melhor. Todo o show foi muito longo, o que deixou um pouco cansativo. Mas foi bom o bastante para sentir que valeu a pena ter ido. O preço sim, foi bem caro. Mas o Claro Hall está muito caro (tinha gente pagando R$ 80 para ver isso aqui), preciso providenciar uma carteira para arrancar algum desconto logo.
No final, o que restou foi um cardápio de mesa do Claro Hall devidamente surrupiado (troféu a ser colocado na parede do laboratório de MMM), 2 marcadores de mesa (já que nos colocaram na mesa errada, J19 e compramos para a I19), ouvidos zunindo por muitas horas e a certeza de que foi um show arrasador.
P.S.: Quando eu digo que o Vai é mais experimental, é por coisas como que você vê na foto abaixo:
Hora de ir embora. Depois falo mais.
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