Filosofações: Tão subdesenvolvido...
Semana passada levei meu carro para lavar, devia a ele um banho decente há alguns meses (o último foi no dia em que casei). Feito o serviço, peguei o carro, tinindo de limpo. Inclusive colocaram jornais sobre os tapetes, e dali vim para casa.
Como sou muito curioso, e criei o hábito de ler muito, resolvi olhar o jornal que lá tinha sido estendido, numa folga, com o carro parado. Era uma folha do Extra, jornalzinho carioca do grupo d' O Globo, e que falava do concurso Mrs. International. Fui estender a leitura.
Esse concurso é que nem os antigos concursos de misses, com uma diferença: É feito com mulhares casadas. Curioso, isso. E o jornal falava da candidata brasileira, Adriana Jackson. Ela tem algo próximo da minha idade (acho que 34 anos), e é casada com um estadunidense, é professora primária em Salt Lake City, no estado de Utah (sede da Novell),e vai participar desse concurso. Até aí nada, tem um texto escrito por ela no G1 (aquele tipo de matéria em que você é o repórter, meio que uma tentativa de fazer as pazes com alguns blogueiros) e a matéria do mesmo site está aqui.
O que achei curioso, e motivou o título da matéria foi a abordagem que o Extra deu para um detalhe da notícia, dizendo que ela vai nas escolas "fazer propaganda" do Brasil, apresentando a nossa cultura. Quando vamos ler a matéria no G1, vemos que a coisa é um pouco diferente, que ela é professora, que vai às escolas divulgando o concurso, e as pessoas tem interesse em conhecer. Aí ela apresenta.
Uma preocupação que temos, como brasileiros, muitas vezes é "divulgar" a nossa cultura. Falar que aqui não somos terra de ninguém, que os macacos não andam nas ruas, e nem usamos sucuris como quebra-molas. Que aqui temos muito mais do que samba, carnaval e mulher pelada. Que temos uma economia que cresce (apesar dos pesares, cresce), um povo solidário, um clima privilegiado (minha avó, polonesa, adorava o calor do Rio de Janeiro), música fantástica (que eu não gosto, mas respeito), futebol de primeira... Tantas coisas boas. Somos iguais a todos, e melhores em muitos aspectos. Piores em outros, é verdade. E por que é que precisamos ainda ficar divulgando por aí o que somos, dizendo que somos bons?
É claro que uma crítica como aquele episódio d'Os Simpsons nos incomodam a todos. Mas há a licença poética: Podemos falar tudo dos estadunidenses, menos que eles tem auto-crítica. São o povo que mais satirizam a si mesmos, e o desenho supracitado já satirizou os estereótipos dos japoneses, australianos e de tantos outros. Por que não a gente, aqui? Na boa... Whatever, eu também preciso me incomodar menos.
Nélson Rodrigues dizia que tínhamos "complexo de vira-lata". Infelizmente, ainda temos um pouco (ou muito), ainda precisamos dizer a nós mesmos que somos bons, para que acreditemos. Ainda precisamos ouvir de estrangeiros que visitam o nosso país que ele é lindo, que é maravilhoso, que gostaria de vir morar aqui (mesmo que seja mentiroso da parte deles), essas coisas. Claro que nos alegra ouvir de gente como Will Eisner que só não vinha morar no Brasil porque não conseguia aprender o português, e que os quadrinhistas brasileiros tem qualidade, e devem falar com os outros mercados. Ou de uma cantora de uma banda de rock inglesa, dos anos 80 (achava que era a Chrissie Hynde, do Pretenders, mas vi que não era) que estava morando em São Paulo e a sua vontade era ficar cantando MPB em barzinhos na capital paulista. Mas isso não é tudo, temos valor pelo que somos.
Temos mania de valorizar o que vem do exterior, e convivi muito disso de perto, com meu pai, que viveu a influência de supervalorizar o que vem de fora, nos anos 60, 70 e 80. Só que ficar valorizando os outros, em detrimento de nós mesmos... Ah, isso é tão subdesenvolvido... Que a gente faça isso cada vez menos. Que sejamos nacionalistas, mas que não sejamos tolos.
PS: Um detalhe sobre a minha motaivação inicial para escrever esse texto (lá em cima, vai lá olhar!): Ela é negra (ou mulata, como queiram chamar), e moradora no estado mais mórmon dos EUA, onde dizem, até o lago salgado é seguidor de Joseph Smith. E os mórmons tem a fama (não sei se justificada) de serem racistas (dizem que a "marca" de Caim foi a cor e o nariz, essas coisas). Agora, como ela se vira por lá?
Como sou muito curioso, e criei o hábito de ler muito, resolvi olhar o jornal que lá tinha sido estendido, numa folga, com o carro parado. Era uma folha do Extra, jornalzinho carioca do grupo d' O Globo, e que falava do concurso Mrs. International. Fui estender a leitura.
Esse concurso é que nem os antigos concursos de misses, com uma diferença: É feito com mulhares casadas. Curioso, isso. E o jornal falava da candidata brasileira, Adriana Jackson. Ela tem algo próximo da minha idade (acho que 34 anos), e é casada com um estadunidense, é professora primária em Salt Lake City, no estado de Utah (sede da Novell),e vai participar desse concurso. Até aí nada, tem um texto escrito por ela no G1 (aquele tipo de matéria em que você é o repórter, meio que uma tentativa de fazer as pazes com alguns blogueiros) e a matéria do mesmo site está aqui.
O que achei curioso, e motivou o título da matéria foi a abordagem que o Extra deu para um detalhe da notícia, dizendo que ela vai nas escolas "fazer propaganda" do Brasil, apresentando a nossa cultura. Quando vamos ler a matéria no G1, vemos que a coisa é um pouco diferente, que ela é professora, que vai às escolas divulgando o concurso, e as pessoas tem interesse em conhecer. Aí ela apresenta.
Uma preocupação que temos, como brasileiros, muitas vezes é "divulgar" a nossa cultura. Falar que aqui não somos terra de ninguém, que os macacos não andam nas ruas, e nem usamos sucuris como quebra-molas. Que aqui temos muito mais do que samba, carnaval e mulher pelada. Que temos uma economia que cresce (apesar dos pesares, cresce), um povo solidário, um clima privilegiado (minha avó, polonesa, adorava o calor do Rio de Janeiro), música fantástica (que eu não gosto, mas respeito), futebol de primeira... Tantas coisas boas. Somos iguais a todos, e melhores em muitos aspectos. Piores em outros, é verdade. E por que é que precisamos ainda ficar divulgando por aí o que somos, dizendo que somos bons?
É claro que uma crítica como aquele episódio d'Os Simpsons nos incomodam a todos. Mas há a licença poética: Podemos falar tudo dos estadunidenses,
Nélson Rodrigues dizia que tínhamos "complexo de vira-lata". Infelizmente, ainda temos um pouco (ou muito), ainda precisamos dizer a nós mesmos que somos bons, para que acreditemos. Ainda precisamos ouvir de estrangeiros que visitam o nosso país que ele é lindo, que é maravilhoso, que gostaria de vir morar aqui (mesmo que seja mentiroso da parte deles), essas coisas. Claro que nos alegra ouvir de gente como Will Eisner que só não vinha morar no Brasil porque não conseguia aprender o português, e que os quadrinhistas brasileiros tem qualidade, e devem falar com os outros mercados. Ou de uma cantora de uma banda de rock inglesa, dos anos 80 (achava que era a Chrissie Hynde, do Pretenders, mas vi que não era) que estava morando em São Paulo e a sua vontade era ficar cantando MPB em barzinhos na capital paulista. Mas isso não é tudo, temos valor pelo que somos.
Temos mania de valorizar o que vem do exterior, e convivi muito disso de perto, com meu pai, que viveu a influência de supervalorizar o que vem de fora, nos anos 60, 70 e 80. Só que ficar valorizando os outros, em detrimento de nós mesmos... Ah, isso é tão subdesenvolvido
PS: Um detalhe sobre a minha motaivação inicial para escrever esse texto (lá em cima, vai lá olhar!): Ela é negra (ou mulata, como queiram chamar), e moradora no estado mais mórmon dos EUA, onde dizem, até o lago salgado é seguidor de Joseph Smith. E os mórmons tem a fama (não sei se justificada) de serem racistas (dizem que a "marca" de Caim foi a cor e o nariz, essas coisas). Agora, como ela se vira por lá?
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