Passados 15 anos...
E ontem, 1 de maio, lembramos da morte do Ayrton Senna. Já fazem 15 anos... Ele nos deixou uma saudade imensa. Meu pai, fanático por automobilismo, recusou-se a ver o acidente. Acho que até hoje ele não viu. Ele sempre virava o rosto quando aparecia a batida violenta na curva Tamburello, em Ímola, naquele 1o de maio de 1994. Ele parou de assistir Fórmula-1, e só voltou a ver depois do fim da carreira do Schumacher, em 2007, acho. Minha mãe, que nunca foi fã de corridas, chorou com a morte do Ayrton. Meu avô ficou mudo. Meu irmão murchou. Um amigo de faculdade embargou a voz ao falar do fatídico dia. E logo ele, que eu nunca imaginei que daria bola para Fórmula-1?
Naquela semana, uma edição especial da Veja dizia: "A tragédia dobrou o Brasil". Eu ainda tenho essa revista, guardada em algum canto aqui em casa. Um bobo colega de faculdade buscou procurar palavras para expressar, e como sempre, não conseguiu, usou alguma expressão mal-colocada para enfatizar o que tinha acontecido - e como em muitas vezes, foi ridículo. E eu? Confesso que nem dei atenção para o que aquele tonto dizia. Foram 2 semanas de tristeza, nada me tirava daquele sentimento de fossa. Uma faixa preta amarrada ao meu braço esquerdo, o qual eu mais dependo. Afinal, sou canhoto, assim como o Ayrton o era.
Curioso que, esses dias, recebi uma entrega de madeira aqui em casa, e travei o seguinte diálogo com um dos entregadores:
"- Nossa, o senhor é canhoto?!"
"- Pois é... Eu gosto, sabe?"
"- Puxa, eu acho um barato, ser canhoto."
"- Mas incomoda um pouco às vezes. Abridor de latas, tesouras... Melhorou para nós."
"- Eu acho muito bonito."
"- Tem suas vantagens também. A mão forte está sempre no volante, a gente passa a marcha com a direita. Como o Ayrton Senna."
"- O Ayrton?"
"- Sim, ele era canhoto."
"- Puxa, e eu sou fanático por F-1 e não sabia disso... Obrigado!"
Mas o Ayrton não era só um piloto de F-1. Ele foi o nosso maior ídolo esportivo individual. Numa época em que não tínhamos muito o que comemorar, ele trazia ao povão alegria, ao passar os bichos papões e mostrar que brasileiro não é só barbeiro, é bom piloto também. Pergunte a várias pessoas que viveram o ano de 1988 sobre o que eles lembram de mais relevante daquele ano. Poucos apontarão a Constituição nova. A maioria irá lembrar do primeiro título mundial do Ayrton na McLaren. Ainda tentaram ascender o Guga ao posto de novo herói nacional, principalmente depois dele ter feito-nos pular na frente da TV com voleios e smashes espetaculares em Roland Garros. Felizmente o Guga não tornou-se outro Ayrton.
O Ayrton era aquele sujeito que qualquer brasileiro o aceitaria de bom grado em casa para tomar um café, filar um almoço... E ninguém aceitaria um não dele para um lanchinho lá em casa! Ah não, afinal, ele já era íntimo de todos nós: Em várias manhãs de domingo do ano, ele entrava na nossa casa, e travava belíssimos duelos contra grandes pilotos como Prost, Mansell, ou o nosso conterrâneo e não menos fera, Nelson Piquet (o pai).
E como xingamos Jean-Marie Ballestre, então presidente da FIA, com aquela desclassificação que tirou-lhe o título de 1989... Tudo por que ele saiu da pista! Mas nós mesmos que xingamos, aplaudimos ele deixar a sua McLaren bater e levar o carro do Prost para fora da pista, naquela largada. Jogou sujo? É, não foi lá muito leal. Michael Schumacher fez as dele também, e muitos o criticam até hoje (meu pai, inclusive). Mas o Ayrton pode ter sido o nosso "santo". Mas os pés eram de barro.
Santo ninguém é dentro de um carro de F-1. Ninguém está ali de graça, ninguém tira uma superlicença simplesmente porque quer. E ninguém está ali para perder. Muito menos o Ayrton, que dizia que "o segundo lugar é o primeiro perdedor".
Já éramos campeões mundiais. 2 títulos com o Emerson Fittipaldi, e 3 com o Nélson Piquet, que apesar de ganhar várias vezes o Troféu Limão dos jornalistas que cobriam a F-1, era o meu piloto favorito. Mas o coração era grande, e sempre houve espaço para mais pilotos. E o Ayrton, que a gente nem chama de Senna, mas pelo primeiro nome, dada a intimidade... Conquistou todo o Brasil.
Adriane Galisteu surgiu nesse momento, como a última namorada. Viviane Senna abriu um instituto com o nome do irmão morto. E o Rubens? O Barrichello acabou levando o peso de toda uma torcida acostumada a vencer nas costas. E, embora seja um piloto excepcional, vice-campeão mundial duas vezes, e o piloto com mais corridas na F-1 (o único ainda em atividade que correu com o Ayrton)... Injustamente é ridicularizado por um bando de idiotas que não entendem nada de F-1 e ainda repetem a piadinha boba: "Rubinho Pé-de-Chinelo...".
O Senninha, personagem infantil, ainda faz sucesso até hoje. Leonardo, o irmão, foi sócio da Cibertron Informática, "produtora" de software para MSX e hoje revende carros da marca Audi, a Senna Imports. Bruno, o sobrinho, quase vai para a F-1, 15 anos depois da morte do tio, e 25 anos depois da estréia do mesmo. Agora, vai correr na DTM, em algumas provas da Le Mans Series, enquanto espera para ver se pinta uma vaga em 2010. Seria ele um gênio como o tio? Não acho. Bruno é um ótimo piloto, mas ainda não é genial como o Ayrton. Talvez se tivesse tido a assessoria do tio... Mas não houve tempo.
O que teria sido do Ayrton se não houvesse aquele rompimento da barra de direção da Williams, naquele 1/5/94? Bem, ele hoje teria seus 49 anos (21/3/1960). É possível que estivesse casado, com filhos, e fosse meio calvo. Talvez tivesse ganho mais um ou dois mundiais (no lugar do insosso Damon Hill), e protagonizado duelos homéricos com uma estrela em ascensão, que era o Schumacher. Quem sabe estaria empresariando o sobrinho, que teria se desenvolvido ao longo de todo esse tempo, e não apenas a partir dos 18 anos, como ele fez. Traumas de família, todos nós sabemos.
Ayrton teria saído da F-1, talvez tivesse corrido nas 500 Milhas de Indianápolis, 24 Horas de Le Mans... E pudesse falar de cátedra a famosa frase de Nelson Piquet: "O melhor momento na vida de um piloto não é ganhar um mundial, ou uma corrida só. É quando ele dá uma porrada, destrói o carro, mas sai de lá vivo e inteiro". Teria levado e dado umas boas cacetadas, e se divertido um bocado.
Hoje ele talvez estivesse à frente da sua fundação, apoiando tratamentos de crianças com câncer, coisa que ele fazia e não pedia reconhecimento algum. Quantos equipamentos ele doou para o INCA, sem que ninguém soubesse! Talvez ele tivesse estendido aquelas idéias que ele teorizou, sobre o carro de F-1 do futuro, que parecia um avião caça, todo computadorizado. Talvez ele tivesse escrito aquele livro, contando histórias escabrosas que só quem esteve por trás dos paddocks saberia... Mas corríamos o risco de ouvirmos ele sendo comentarista de corridas ao lado do seu grande amigo Galvão Bueno. Bem, se fosse assim o Luciano Burti teria perdido o emprego.
A Williams não teria entrado nessa espiral descendente de fracassos, e não estaria hoje devendo até os pneus da cadeira de rodas do seu chefe, Frank Williams, o último "garagista" da F-1. A Honda não teria desaprendido a fazer um carro, e Schumacher não teria ganho 7 títulos, mas talvez uns 4 ou 5... E teria sido melhor para nós, brasileiros. Esse buraco, na cabeça do povão, entre 1994 (morte do Ayrton) e 2007 (Felipe
Massa na Ferrari) não teria ocorrido.
Mas quis Deus que Ayrton fosse estar com Ele. No seu túmulo, a paráfrase do lindo versículo escrito pelo apóstolo Paulo aos Romanos, capítulo 8, verso 39: "Nada pode me separar do amor de Deus". Quis Deus que o Ayrton fosse estar com Ele. Pelo menos, a infame coletânea de piadas de humor negro que atravessaram a iniciante Internet ao longo de 1994 teria sido abreviada.
Ainda carrego um cacoete que tem origem no Senna. Sempre saio de um túnel com um olho fechado e outro aberto. E depois de um tempo abro o outro olho. Na entrada do túnel, fecho um e abro outro. Na saída, é o contrário. O Ayrton fazia isso, para não ser ofuscado na saída do Túnel do GP de Mônaco. É... Não é à toa que ele levou Mônaco cinco vezes, merecendo o título de Mister Mônaco. É... A tragédia dobrou o Brasil, e passados 15 anos, ainda traz saudade. Meu aplauso ao maior piloto brasileiro de todos os tempos, e um dos maiores da história, o nosso amigo Ayrton Senna da Silva. Que, como todo Silva, é comum. Mas que foi cantado pela Tina Turner como "You are simply the best". É, o simplesmente o melhor.
PS: Viúva é a @#$%"&*(+)!
Naquela semana, uma edição especial da Veja dizia: "A tragédia dobrou o Brasil". Eu ainda tenho essa revista, guardada em algum canto aqui em casa. Um bobo colega de faculdade buscou procurar palavras para expressar, e como sempre, não conseguiu, usou alguma expressão mal-colocada para enfatizar o que tinha acontecido - e como em muitas vezes, foi ridículo. E eu? Confesso que nem dei atenção para o que aquele tonto dizia. Foram 2 semanas de tristeza, nada me tirava daquele sentimento de fossa. Uma faixa preta amarrada ao meu braço esquerdo, o qual eu mais dependo. Afinal, sou canhoto, assim como o Ayrton o era.
Curioso que, esses dias, recebi uma entrega de madeira aqui em casa, e travei o seguinte diálogo com um dos entregadores:
"- Nossa, o senhor é canhoto?!"
"- Pois é... Eu gosto, sabe?"
"- Puxa, eu acho um barato, ser canhoto."
"- Mas incomoda um pouco às vezes. Abridor de latas, tesouras... Melhorou para nós."
"- Eu acho muito bonito."
"- Tem suas vantagens também. A mão forte está sempre no volante, a gente passa a marcha com a direita. Como o Ayrton Senna."
"- O Ayrton?"
"- Sim, ele era canhoto."
"- Puxa, e eu sou fanático por F-1 e não sabia disso... Obrigado!"
Mas o Ayrton não era só um piloto de F-1. Ele foi o nosso maior ídolo esportivo individual. Numa época em que não tínhamos muito o que comemorar, ele trazia ao povão alegria, ao passar os bichos papões e mostrar que brasileiro não é só barbeiro, é bom piloto também. Pergunte a várias pessoas que viveram o ano de 1988 sobre o que eles lembram de mais relevante daquele ano. Poucos apontarão a Constituição nova. A maioria irá lembrar do primeiro título mundial do Ayrton na McLaren. Ainda tentaram ascender o Guga ao posto de novo herói nacional, principalmente depois dele ter feito-nos pular na frente da TV com voleios e smashes espetaculares em Roland Garros. Felizmente o Guga não tornou-se outro Ayrton.
O Ayrton era aquele sujeito que qualquer brasileiro o aceitaria de bom grado em casa para tomar um café, filar um almoço... E ninguém aceitaria um não dele para um lanchinho lá em casa! Ah não, afinal, ele já era íntimo de todos nós: Em várias manhãs de domingo do ano, ele entrava na nossa casa, e travava belíssimos duelos contra grandes pilotos como Prost, Mansell, ou o nosso conterrâneo e não menos fera, Nelson Piquet (o pai).
E como xingamos Jean-Marie Ballestre, então presidente da FIA, com aquela desclassificação que tirou-lhe o título de 1989... Tudo por que ele saiu da pista! Mas nós mesmos que xingamos, aplaudimos ele deixar a sua McLaren bater e levar o carro do Prost para fora da pista, naquela largada. Jogou sujo? É, não foi lá muito leal. Michael Schumacher fez as dele também, e muitos o criticam até hoje (meu pai, inclusive). Mas o Ayrton pode ter sido o nosso "santo". Mas os pés eram de barro.
Santo ninguém é dentro de um carro de F-1. Ninguém está ali de graça, ninguém tira uma superlicença simplesmente porque quer. E ninguém está ali para perder. Muito menos o Ayrton, que dizia que "o segundo lugar é o primeiro perdedor".
Já éramos campeões mundiais. 2 títulos com o Emerson Fittipaldi, e 3 com o Nélson Piquet, que apesar de ganhar várias vezes o Troféu Limão dos jornalistas que cobriam a F-1, era o meu piloto favorito. Mas o coração era grande, e sempre houve espaço para mais pilotos. E o Ayrton, que a gente nem chama de Senna, mas pelo primeiro nome, dada a intimidade... Conquistou todo o Brasil.
Adriane Galisteu surgiu nesse momento, como a última namorada. Viviane Senna abriu um instituto com o nome do irmão morto. E o Rubens? O Barrichello acabou levando o peso de toda uma torcida acostumada a vencer nas costas. E, embora seja um piloto excepcional, vice-campeão mundial duas vezes, e o piloto com mais corridas na F-1 (o único ainda em atividade que correu com o Ayrton)... Injustamente é ridicularizado por um bando de idiotas que não entendem nada de F-1 e ainda repetem a piadinha boba: "Rubinho Pé-de-Chinelo...".
O Senninha, personagem infantil, ainda faz sucesso até hoje. Leonardo, o irmão, foi sócio da Cibertron Informática, "produtora" de software para MSX e hoje revende carros da marca Audi, a Senna Imports. Bruno, o sobrinho, quase vai para a F-1, 15 anos depois da morte do tio, e 25 anos depois da estréia do mesmo. Agora, vai correr na DTM, em algumas provas da Le Mans Series, enquanto espera para ver se pinta uma vaga em 2010. Seria ele um gênio como o tio? Não acho. Bruno é um ótimo piloto, mas ainda não é genial como o Ayrton. Talvez se tivesse tido a assessoria do tio... Mas não houve tempo.
O que teria sido do Ayrton se não houvesse aquele rompimento da barra de direção da Williams, naquele 1/5/94? Bem, ele hoje teria seus 49 anos (21/3/1960). É possível que estivesse casado, com filhos, e fosse meio calvo. Talvez tivesse ganho mais um ou dois mundiais (no lugar do insosso Damon Hill), e protagonizado duelos homéricos com uma estrela em ascensão, que era o Schumacher. Quem sabe estaria empresariando o sobrinho, que teria se desenvolvido ao longo de todo esse tempo, e não apenas a partir dos 18 anos, como ele fez. Traumas de família, todos nós sabemos.
Ayrton teria saído da F-1, talvez tivesse corrido nas 500 Milhas de Indianápolis, 24 Horas de Le Mans... E pudesse falar de cátedra a famosa frase de Nelson Piquet: "O melhor momento na vida de um piloto não é ganhar um mundial, ou uma corrida só. É quando ele dá uma porrada, destrói o carro, mas sai de lá vivo e inteiro". Teria levado e dado umas boas cacetadas, e se divertido um bocado.
Hoje ele talvez estivesse à frente da sua fundação, apoiando tratamentos de crianças com câncer, coisa que ele fazia e não pedia reconhecimento algum. Quantos equipamentos ele doou para o INCA, sem que ninguém soubesse! Talvez ele tivesse estendido aquelas idéias que ele teorizou, sobre o carro de F-1 do futuro, que parecia um avião caça, todo computadorizado. Talvez ele tivesse escrito aquele livro, contando histórias escabrosas que só quem esteve por trás dos paddocks saberia... Mas corríamos o risco de ouvirmos ele sendo comentarista de corridas ao lado do seu grande amigo Galvão Bueno. Bem, se fosse assim o Luciano Burti teria perdido o emprego.
A Williams não teria entrado nessa espiral descendente de fracassos, e não estaria hoje devendo até os pneus da cadeira de rodas do seu chefe, Frank Williams, o último "garagista" da F-1. A Honda não teria desaprendido a fazer um carro, e Schumacher não teria ganho 7 títulos, mas talvez uns 4 ou 5... E teria sido melhor para nós, brasileiros. Esse buraco, na cabeça do povão, entre 1994 (morte do Ayrton) e 2007 (Felipe
Massa na Ferrari) não teria ocorrido.
Mas quis Deus que Ayrton fosse estar com Ele. No seu túmulo, a paráfrase do lindo versículo escrito pelo apóstolo Paulo aos Romanos, capítulo 8, verso 39: "Nada pode me separar do amor de Deus". Quis Deus que o Ayrton fosse estar com Ele. Pelo menos, a infame coletânea de piadas de humor negro que atravessaram a iniciante Internet ao longo de 1994 teria sido abreviada.
Ainda carrego um cacoete que tem origem no Senna. Sempre saio de um túnel com um olho fechado e outro aberto. E depois de um tempo abro o outro olho. Na entrada do túnel, fecho um e abro outro. Na saída, é o contrário. O Ayrton fazia isso, para não ser ofuscado na saída do Túnel do GP de Mônaco. É... Não é à toa que ele levou Mônaco cinco vezes, merecendo o título de Mister Mônaco. É... A tragédia dobrou o Brasil, e passados 15 anos, ainda traz saudade. Meu aplauso ao maior piloto brasileiro de todos os tempos, e um dos maiores da história, o nosso amigo Ayrton Senna da Silva. Que, como todo Silva, é comum. Mas que foi cantado pela Tina Turner como "You are simply the best". É, o simplesmente o melhor.
PS: Viúva é a @#$%"&*(+)!
Marcadores: ayrton senna, fórmula-1, homenagem, saudade
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