13 julho 2009

Ashes to Ashes

Depois de "Life on Mars" (a versão inglesa), estou assistindo com a Cláudia "Ashes to Ashes". Essa é a sequência direta da primeira, com diferenças e semelhanças, mais do segundo do que do primeiro:

Diferenças:
  • Agora é uma policial, Alex Drake, que vai parar no passado, em 1981 (a música do David Bowie, Ashes to Ashes, é de um single, de 1980);
  • Série centrada em Londres, e não em Manchester. Para ser exato, no posto policial de Fenchurch Leste;
  • "Ashes to Ashes" não tocava no momento do incidente que levou Alex ao passado, ao contrário de Sam, que ouvia o disco de David Bowie quando foi atropelado;
  • Alex (o nome dela é Alexandra) é psicóloga, divorciada, tem uma filha e estuda o caso de Sam Tyler, protagonista de "Life on Mars";
  • A referência à morte é de um palhaço, um pierrô sinistro, propositalmente semelhante ao palhaço da capa do single do David Bowie, por sinal (olha aí do lado). Em "Life on Mars", era uma menina que aparecia na TV;
  • O carro mudou: Era um Ford Cortina, agora é um Audi Quattro. Só que, curiosamente, não existiam Audis Quattro nas Ilhas Britânicas em 1981...
  • Um dos personagens principais divorciou-se nos últimos 8 anos... E pelo visto ele teve que engolir a Margaret Thatcher (*);
  • Alex encara o que acontece com ela já sabendo de que ela está em coma, baseado no que ela ouviu das gravações de Sam Tyler, quando emergiu do coma. Logo, ela imagina que todos são apenas frutos da imaginação dela... Mas um incidente no final da primeira temporada coloca isso em dúvida;
  • O bar tem bem menos relevância em "Ashes to Ashes" do que em "Life on Mars". E aqui, o dono da cantina é um italiano, Luigi. Em "Life on Mars", era um jamaicano que arranhava francês e era conselheiro entre uma cerveja e outra. O principal aconselhado? Sam Tyler, óbvio;
  • Sam decepciona-se com o pai... Alex decepciona-se com a mãe, uma advogada esquerdista e que teve algumas manchas no passado. Aliás, ela decepciona-se com o pai também, mas como ele quase não aparece... Vá lá, o que ocorre no final da 1a temporada explica;
  • Aqui, nada de telefonemas do "mundo real";
  • "Life on Mars" teve duas temporadas. "Ashes to Ashes" deverá ter três.
Semelhanças:
  • 3 personagens voltaram:
  1. Chris Skelton, o jovem e ingênuo policial;
  2. Ray Carling, o sargento grosso e troglodita, mas com um bom coração;
  3. E... Gene Hunt! Gene Genie está de volta, e mais grosseiro, briguento, preconceituoso e irônico do que nunca. Não é à toa que ele é listado em primeiro como personagem da série - ele é o personagem principal, e aquele que todos nós gostamos;
  • Temática quase igual nas nas temporadas:
  1. Ambos querem saber o que aconteceu com suas famílias: Sam quer saber o que aconteceu com seu pai, e tentar evitar que ele vá embora. Alex quer entender o trauma de ver os pais morrerem num ataque com um carro-bomba, e evitar que isso ocorra;
  2. Ambos encontram consigo mesmos, quando crianças, embora não troquem palavras;
  3. A temática é a mesma: Conflito de épocas, procedimento policial dos anos 2000 x anos 80, essas coisas que fizeram "Life on Mars" ser divertida, e "Ashes to Ashes" também é, apesar de semelhanças demais;
  4. Ambos quase deixam escorregar para as respectivas mães quem são, efetivamente;
  • As músicas de David Bowie, em ambas as séries;
  • O contato com o mundo exterior continua sendo através de uma televisão - só que menos intensamente;
  • A ambientação, como sempre, na medida do possível, é bem-feita. O forte é o roteiro, e as histórias, já que eles nunca tem dinheiro para fazer a série com mais detalhes do que gostariam... Mas funciona bem, apesar do carro do Gene Hunt rodar muitas vezes sozinho nas ruas;
  • A primeira temporada é a busca do protagonista por respostas (Sam e Alex). Na segunda, a busca pela vida, o desejo de voltar - se bem que no caso da Alex, ela tem uma filha (Molly), que a faz querer sair do coma o mais rápido possível;
  • Vários episódios parecidos:
  1. Tem episódio que a Alex acerta quem é o bandido usando todas as técnicas de psicologia, etc e tal.
  2. Tem episódio em que ela se compadece, deixa-se levar pela situação, mas o Gene Hunt, com seu faro policial, acerta;
  3. Tem episódio em que ela passa por cima do chefe, o denuncia e ele é tirado de um caso, para desgosto e desprezo de todos os outros colegas;
E, apesar de gostar muito da atuação do John Simm, que me desculpe as mulheres (Cláudia como primeira da fila), mas a Keeley Hayes (Alex Drake) com essa roupa de início dos anos 80 (o casaquinho branco e as botas que não mudam)... Está um pedaço de mau caminho. Aliás, Cláudia, que não é ciumenta, me beliscou quando disse que a atriz tem uma coisa que mulheres inglesas não tem: Bunda. Sim, ela é muito bonita. E pensar que nos primeiros 10 minutos do 1o episódio, ela está sem maquiagem e com uma roupa tão masculina e feia...

Bem, vejam. É um "Life on Mars", com algumas diferenças, muitas semelhanças, e como sempre, muito divertido. Vale a pena, e a diversão.

PS: Ironia do destino? Não sei... A mãe de Sam chama-se Rose. Rose Tyler... Que é o nome da primeira acompanhante do Doutor desde que Doctor Who foi retomado, em 2005.

(*) Eu contei isso no meu post sobre Life on Mars, mas vale relembrar: Num episódio de Life on Mars, ele, bebendo, disse: "Uma mulher primeiro-ministro? Não enquanto eu tiver um buraco na minha bunda!" E a Dama de Ferro entrou 5 anos depois...

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27 julho 2008

"Life on Mars"

Ultimamente ando vendo muitas séries inglesas. Já citei aqui Doctor Who, que virou uma das minhas favoritas (e a 4a temporada foi uma das melhores), e se lembro bem, Torchwood, um spin-off da série do Doutor, que é uma série para adultos fantástica, tanto roteiro quanto produção. Ainda tem The I.T. Crowd, que os mais geeks conhecem (está na 2a temporada), e Red Dwarf, uma série que eu considero "intraduzível", por causa de tantos cacos e gírias locais (ficção científica com humor). Agora vou citar mais uma, Life on Mars.
Muitos quando vêem esse nome pensam que é uma série de ficção científica. Cláudia pensou isso também. Mas na verdade é uma série policial. O por quê do nome? A música "Life on Mars", single lançado em 1973, pelo "camaleão do rock" David Bowie. E tem a ver com a história, que é razoavelmente simples: Um detetive da polícia, Sam Tyler, na busca por informações que levem ao paradeiro da sua parceira e namorada (sequestrada por um serial killer), é atropelado por um carro, e de repente, acorda e se vê em 1973. Nada muda e tudo muda na vida dele: Ele continua policial, trabalhando na mesma delegacia, morando na mesma cidade (Manchester)... Só que 33 anos antes (a série é de 2006). Daí... Começa o choque de culturas e a investigação policial, que faz a série ser tão interessante. Afinal, ele é um policial dos anos 2000, confrontando os métodos e práticas da polícia dos anos 1970, no interior da Inglaterra.

O que aconteceu com ele? Bem, supomos todos nós que ele está em 2006, em coma, no hospital, e tudo o que acontece ao seu redor é fruto da sua imaginação. Mas ao mesmo tempo, o curioso é que ele imagina toda uma cidade, uma vida com uma riqueza de detalhes impressionante. Se temos o controle dos nossos sonhos, poderíamos tornar a nossa história ao nosso favor. Não é bem assim que acontece: O choque de culturas, a caracterização, e os crimes, que acontecem e ele tem que resolver, as pessoas que morrem, as negativas que ele recebe... O chefe dele (Gene Hunt) é a completa antítese dele, e as discussões entre eles estão entre as coisas mais engraçadas da série, o cara age como se fosse um xerife de uma cidade do Velho Oeste.

A dúvida está presente o tempo todo sobre Sam, que fala no início de cada episódio, que não sabe se está louco, se está em coma ou que realmente viajou no tempo. Em vários momentos ele ouve sinais como que de aparelhos médicos, gente falando com ele, e uma garotinha agarrada a um palhaço, que ele dialoga e que aparece sempre na televisão, na madrugada, fora do ar.

A caracterização é muito bem-feita, e faz a gente se divertir com as referências, elementos e detalhes. Vemos muito do que foi os anos 1970 nos Estados Unidos, mas pouco do que foi em outros países. Essa é uma oportunidade de ver como foram "aqueles loucos anos" nas Ilhas Britânicas.

Interessante avaliar as diferenças das polícias: Se em 2000 há uma ênfase forte em perícia forense, em 1970 a solução é espancar alguns suspeitos até que eles falem algo. Nada de proteger testemunhas, ou escudos e capacetes para a polícia contra multidões enfurecidas: Cada um pega uma "ferramenta" (marreta, pedaço de pau, etc) e vai para cima. Vemos ocorrências de provas plantadas, confissões arrancadas a base de muita pancada, mentiras, gente sendo presa sem motivo aparente, machismo (a policial feminina é formada em psicologia mas é ignorada por quase todos), suborno... Ou seja, dá para concluir que a polícia brasileira parou, em boa parte, nos anos 1970. Notável a semelhança! E o dono do bar onde eles bebem é jamaicano (e o reggae surgindo no horizonte), que acha estranho "ter uma televisão no bar".

Cada episódio tem um foco: Em um, o início das rivalidades do futebol (mostrando os dois times da cidade, o United e o City), que deu origem aos hooligans. Em outro, os sindicatos, e o início da decadência da indústria têxtil britânica (em 2006, Sam mora num loft que foi construído numa antiga fábrica de tecidos). Em mais um, os "gângsters" (não é bem o termo, mas que seja), que mandam na cidade, inclusive na polícia (à base de muita propina). E por aí vai.

É uma série curta: 2 temporadas, 8 episódios cada. Episódios longos, quase 1 hora cada (sem os comerciais). Ganhou o BAFTA (o "Oscar" inglês) e o Emmy (o "Oscar" da TV), e seguindo a trilha de The IT Crowd e The Office, terá uma versão estadunidense, a partir desse ano (já saiu o piloto em sites de torrent). Como quase sempre, a falta de dinheiro (tem poucos figurantes na cidade) são compensados com bons roteiros. Sim, a série é muito boa, e eu não sei como vai acabar (ainda estou na 1a temporada).

No Reino Unido, haverá uma nova série em 2009, Ashes to Ashes, que será uma continuação de Life on Mars, tanto que será mantida parte do elenco original. A referência é ao single do mesmo nome e de grande sucesso, de 1980, do David Bowie. Vamos ver se vai ser tão boa quanto a original.

Algumas poucas trívias:
  • Ele encontra com ele mesmo (em 1973, ele tinha 4 anos), e vê a mãe, nova, ser achacada por um "cobrador de impostos".
  • Sam Tyler estava ouvindo "Life on Mars", no seu iPod acoplado ao som do carro dele, quando aconteceu o atropelamento. E quando ele acorda em 1973, ele está ouvindo Life on Mars... Num toca-fitas (na verdade cartucho), num Ford Cortina (ou Granada, não lembro bem).
  • O ator que faz o Sam Tyler é o "Mestre" John Simm (quem assistiu a 3a temporada do Doutor entenderá).
  • O chefe de polícia berra num bar: "O quê? Não haverá uma mulher primeiro-ministro enquanto eu tiver um num buraco na minha bunda!" E Margaret Thatcher, então, assumiu seis anos depois...
  • E quando a Annie Cartwright (uma policial feminina) pergunta sobre as "alucinações" que o Sam vinha tendo, e ele responde: "Eu vou pedir ao Doctor Who para me receitar uma medicação...". E a série do Doutor, na sua primeira versão atravessou os anos 1970 afora (1963-1989).
  • Na versão americana, vai ter o Colm Meaney, o Chefe O'Brien de Star Trek: DS9.
Enfim, vejam. É uma série muito boa, eu recomendo.

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13 dezembro 2006

O que é bom deve ser copiado

Antes de ir definitivamente para a cama, topo com essa notícia no site Omelete: Nova série inglesa de escritório terá remake nos EUA. E adivinhem qual é a série? Essa mesmo, The I. T. Crowd! Muito interessante saber disso, embora eu ache que uma produção estadunidense não terá o mesmo charme e todas as referências geeks que tem no original. Afinal, os ingleses são um povo que não se levam muito a sério, e os estadunidenses levam-se por demais a sério...

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