15 junho 2013

Filosofações: Sobre os protestos recentes.

Comecei a escrever isso como comentário em um post de um blog que leio vez por outra (Pavazine), e a exaltação do que chamam de a Primavera Brasileira, claramente alusivo à Primavera Árabe, que presenciamos recentemente.

Como sempre, parei e li um bocado a respeito. Pensei um tanto para poder ter assunto para me exprimir, e mesmo assim fui criticado e tratado como tolo. Fazer o quê, né? Se nem Jesus Cristo, que era perfeito, escapou livre das críticas e dos dedos em riste...

Para começo de conversa, sinto-lhe dizerem, mas não, isto não é a Primavera Árabe. Primeiro que estamos no outono, quase inverno, não é ainda primavera =). Segundo que nos países árabes, a luta era contra regimes ditatoriais, totalitários, opressores, que tolhiam entre outras coisas, a liberdade de expressão. Aqui no Brasil, liberdade de expressão é garantida na Constituição (nem sempre respeitada), assim como direito de resposta (que quase nunca tem vez - ou você vê a imprensa dando espaço?) e a responsabilidade jurídica: Abriu a boca, falou o que não deve, ouve o que não quer. Ou pague por isso.

Talvez pudéssemos definir esse movimento como uma Primavera Árabe à Brasileira se vivêssemos ainda no período da ditadura. Se bem que lamentavelmente a polícia, em particular o Batalhão de Choque, pelo visto, não saiu de lá. Mas não, não é uma Primavera Árabe. No máximo um Outono à Brasileira, e olhe lá.

Acho que sempre se fala que o brasileiro é muito passivo, que não reclama de nada... Mas agora resolveu protestar. Isso é bom. Sim, isso é bom! Porque essa autoimagem de povinho passivo pelo visto está mudando. Não acho que seja uma imagem de lá de fora, acho que seja mais autoimagem, o já conhecido nosso "complexo de vira-lata". Brasileiro sempre acha que nós somos piores do que os outros, isso é incutido de tal forma na mente que é difícil romper.

Comigo começou tem uns 10, 12 anos, quando recebi um email de um amigo falando de um monte de coisas boas que tem no Brasil e a imprensa não fala, o brasileiro não sabe, e não é valorizado. E aquilo me fez pensar. Posteriormente comecei a questionar a imprensa, me perguntando: "Mas será que o Governo não faz nada de bom? Será que nada se salva?" O cúmulo foi na crise (outra!) da queda do avião da TAM, em 2007, quando ilibada jornalista (sim, eu estou sendo irônico) falou que o presidente Lula tinha que vir a público falar, alegando que "nos EUA, em situações como essa, o presidente se pronuncia numa cadeia de rádio e TV". Ao que respondi, dentro do meu carro, dirigindo a caminho do trabalho: "Mas isso aqui é Brasil, não é Estados Unidos, catzo!". E rompi com aquela colunista (infelizmente até hoje adorada pela minha mãe) e com a rádio com a qual ela dirige um programa matutino.

Para quem chegou até aqui, entenda: A insatisfação não é o aumento da passagem de ônibus. Sejamos francos: Trem, metrô e barcas subiram, e nem por isso protestaram. Por que tinha que ser logo com os ônibus? 

Aumentos são previstos, correção da inflação. R$ 0,20 traz impacto? Hmmm... Se a pessoa pega 4 ônibus por dia, e faz uso do Bilhete Único (caso aqui do Rio e de outras capitais), o impacto num mês de trabalho é de 8 reais. Alguns vão dizer que é pouco, outros dirão que é muito... Eu não vou discutir quantidades. Mas não vivemos em um mundo onde a economia está parada. Os preços variam, e infelizmente para mais do que eu gostaria que variam.

Tive 7% de aumento de salário esse ano, que é para corrigir a inflação do período. Aliás, esse valor não merece ser chamado de aumento, mas vá lá... Correção, que seja. Logo, preços sobem, e salários sobem (ou deveriam subir, mas isso é outro caso). Teve greve (que eu furei), e que não lutava pelo aumento (na verdade foi de 7% para 8%), mas principalmente era por causa do nosso Plano de Cargos e Salários (PCS), que está parado há tempos. Agora acho que vai.

Voltando aos protestos: Se não é por causa de R$ 0,20, então é o quê? Válvula de escape, gente. Bode expiatório, chamem do que quiserem. Martin Luther King Jr começou seu movimento lutando pela igualdade no sul dos EUA numa questão contra as empresas de ônibus. Parece piada hoje, mas negros não podiam sentar-se em assentos reservados para brancos. E tudo começou ali. Não, gente, o problema não é R$ 0,20.

Para quem ainda não percebeu, o buraco é muito mais embaixo. Esta é a completa insatisfação que a sociedade vive com as instituições. Governo, Igreja, imprensa, mídia tradicional, polícia... E por aí vai.

O Governo é o primeiro alvo. Sempre é. Afinal, falar mal do Governo deveria ser decretado como esporte nacional aqui no Brasil. Não sei como é em outros países, mas acho que não é muito diferente... Afinal, muitos de nós cresceram lendo, vendo e ouvindo que nada que o Governo faz, presta. E o pior, se você acha que tem iniciativas boas, você é tachado de pelego, puxa-saco e chapa-branca para baixo. Eu já passei por isso, porque elogiei algumas iniciativas governamentais. E as palavras usadas não foram nada doces. Provavelmente a pessoa que me rotulou não lê índices do IBGE, só o que o IBOPE informa...

Não precisa ir muito longe, basta abrir qualquer jornal da grande mídia (cada vez mais irrelevante). Todo dia tem uma crise nova. Recentemente tivemos a crise do tomate, agora da crise da queda da popularidade, a "disparada da inflação", a febre amarela (com pessoas tomando superdosagem de vacina e MORRENDO) e tantas outras. Já foi a do mensalão, e tantas outras. Nossa grande imprensa vive de crises sobre crises, e trata de fazer com que muitos pensem que vivemos numa crise constante, o que não é bem assim.

Mas a atual insatisfação vem de muito tempo, e os atuais governos estão pagando o pato. Felizmente ou infelizmente, é a vez deles.

O protesto é lícito e garantido pela Constituição, e como quase toda a população, desaprovo a violência, tanto de manifestantes que danificaram patrimônio público e privado, quanto da truculência da polícia, que não sabe o que é "manter a ordem". Não tem como não lembrar de Desordem, do Titâs... Muito me preocupa ver que em São Paulo tudo começou com quem deveria conter, ao invés de insuflar. Lamentável, Polícia Militar de São Paulo. Seu supremo comandante (o governador Geraldo Alckmin) deveria ser chamado às favas.

O que vai sair daí? Não sei, mas gosto de ver o brasileiro se manifestando, não gosto de ver quebra-quebra nem de policial cometendo atrocidades. Espero que não fique no que foram os "carapintadas" da minha geração, que o único reflexo foi a eleição do presidente da UNE de então para cargo político. Espero que fique algo mais, além da direita usar isso nas eleições de 2014, e dos jovens esquecerem de tudo logo depois do próximo meme da Internet.

Eu sempre digo: Político tem medo de povo. Então, manifestemo-nos, não só na rua, mas também cobrando eles, ligando, mandando e-mail, querendo satisfações... Isso poucos fazem. Isto é cidadania! Se fizéssemos um pouco mais, certamente protestos nas ruas não seriam mais tão necessários.

PS: Sobre protestos, leia esse link aqui e veja o que a imprensa não divulgou.

PS 2: Alguém me diz uma coisa... Teve protesto em Salvador? Não? Hmm... O prefeito é de que partido mesmo? Ah, tá... It makes me wonder...

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27 julho 2007

... e chegou a censura

Hoje vou numa das instituições onde trabalho, para arrumar diários. Diga-se de passagem, tarefa assaz incômoda, visto que o sistema informatizado acumula todos os dados das turmas... E no final somos obrigados a lançar tudo novamente, em papel, à mão, no diário. De novo. É um trabalho hercúleo e ao meu ver, tolo. Por quê não gerar uma folha final da turma toda, e o professor assina, apenas? Mas eu gastei uma hora do meu longo e trabalhoso dia refazendo diários, corrigindo lançamentos do tipo "Não houve aula" para "Recesso", apenas... Sim, isso é muito chato, principalmente porque eu trabalhei em outras instituições, também fiscalizadas pelo mesmo Ministério da Educação, e não via essa preocupação tão zelosa com diários... Bem, o problema é o gasto de combustível e o tempo perdido. Mas esse ainda não é o assunto do post.

O assunto é que eu fui censurado. Sim, censurado. Pessoas da direção da instituição acharam esse meu blog, que vocês conhecem, leram alguns posts (para ser exato, alguns posts em que falei sobre a instituição), e expressei a minha opinião. As mesmas pessoas vieram a falar com o coordenador para que eu editasse os posts, para não difamar a instituição. Ou algo assim. Ou seja, fui censurado no meu direito de manifestar a minha opinião.

Sei do poder dos blogs. Afinal, o Engadget foi enganado por um post falso vindo da Apple, publicou e as ações da empresa causaram um total de desvalorização de US$4 Bilhões. Isso é uma amostra do poder dos blogs hoje em dia. Embora o meu blog não consiga nem chegar a 200 leitores diários, e eu duvido que algo que eu fale aqui tenha algum efeito sobre algo além do meu dia. E lembro do caso do funcionário que foi demitido por postar no blog sobre a empresa onde ele trabalhava. Patinada feia, a dessa funcionária. Tenho amigos que evitam ao máximo falar de trabalho nos seus respectivos blogs, por diversos motivos. No meu caso, eu falo porque:


  • Envolve mais o meu dia do que a leitura de feeds RSS, audição de podcasts, leitura de emails, etc.
  • Sempre rende uma história curiosa/engraçada/bacana/interessante/tudo junto ou nenhuma das respostas anteriores.
  • Sinto-me no direito de extravasar os sentimentos de raiva, ira, angústia (ou qualquer outra que o valha) que o meu trabalho me gera.
  • Sempre achei que não havia a necessidade de esconder a minha opinião, sob pena de sofrer alguma advertência.

Claro, há muitas coisas que eu guardo para mim. Não há a mínima intenção em mim de difamar, caluniar ou ofender ninguém nos meus posts. Simplesmente falo o que penso, e às vezes acabo rasgando o verbo. Mas quem conversar comigo pessoalmente, saberá o que penso sobre diversos assuntos com mais riqueza de detalhes. Há muita coisa que não compensa declinar em público. Bem... Parece que querem cortar a minha voz.

Não, não vou fazer um discurso a favor da liberdade de expressão, denunciar a censura à Fundação da Fronteira Eletrônica, ou coisas do tipo. Vamos fingir "que todas as pessoas são felizes" (como diria Renato Russo), e vamos tocando o barco. Não vou dizer quais são os posts para não dar corda a essa situação, e nem vou por links aqui. Aliás, vou evitar citar, não por ter medo de censura, ou represálias, mas por achar que quem se preocupa com um abalo na imagem "ilibada" por conta de um post casual de um funcionário, num blog perdido num canto da Internet (que eu considero simplória demais para ser minimamente notada)... Estão ficando paranóicos demais. E quem acompanha os meus posts, deve imaginar de quem estou falando, e deve saber com razoável precisão o que penso. Quanto a esse ato, só soma na lista. Um dia eu falo dela. Para eles.

E como diria Ibrahim Sued: "Os cães ladram e a caravana passa". Vamos em frente.

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05 maio 2007

Filosofações breves: Marcha da maconha

Amanhã tem a Marcha da Maconha, onde pessoas irão se manifestar a favor da liberação do uso desse entorpecente. Até tudo bem, direito deles. Só que eles irão todos com máscaras, escondendo o rosto. Parece que o símbolo do acontecimento, aqui no Rio, é o Cristo Redentor com folhas da cannabis sativa nas mãos. O autor da idéia deu entrevista ao jornal Extra, mas fez questão de manter completo anonimato.

Agora eu me pergunto: Não seria isso uma ridicularização do protesto deles? Se os homossexuais fazem suas Paradas Gays, eles dão a cara ao tapa, estão lá e mostram para quem quiser ver quem eles são. Não tem vergonha do que fazem. E a turma pró-liberação da maconha, por que não fazem o mesmo? Por que não mostrar o rosto e dizer que são a favor da liberação da maconha? Estão com medo, vergonha, preocupações? Então nem vão para o protesto. Depois ficam reclamando que no jornal saiu uma matéria com o título: A Marcha dos Maconheiros. Eles mesmos não se assumem, e com isso colocam o movimento deles em descrédito. O protesto deles é lícito, por mais que eu ache a proposta absurda. Mas, se eles mesmos se escondem atrás de máscaras (como as do governador Sérgio Cabral Filho), eles em primeiro ridicularizaram o próprio protesto. Vai ser mais uma passeata que não leva a nada. Aliás, pode até levar, a uma larica daquelas...

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